Antonio Carlos
Egypto
CLASH (Clash). Egito, 2016.
Direção: Mohamed Diab. Com Nelly Kareem, Hany Adel, Ahmed
Malek, Ahmad Dash. 97 min.
O filme “Clash”, do Egito, trata das turbulências que
têm atingido o país após o que se convencionou chamar de Primavera Árabe e a
revolução egípcia de 2011. O diretor
Mohamed Diab focaliza momentos que se seguiram à deposição do presidente eleito
Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, derrubado pelos militares em 2013, por
meio de um golpe, que produziu muitos protestos nas ruas e confrontos que
marcaram um país dividido.
Para abordar a questão da radicalização política que
envolve os dois grupos principais: os militares e a Irmandade Muçulmana, além
da participação de grupos minoritários, como os cristãos e os judeus, e a
atuação da imprensa, a estratégia do cineasta foi agrupá-los num único dia de
protestos intensos, pela cidade do Cairo, dentro de um camburão. Presos
extraídos dos protestos, os diferentes personagens convivem obrigatoriamente
uns com os outros e têm de lidar com suas diferenças e seus ódios recíprocos.
Tudo se passa, claustrofobicamente, dentro do
camburão, o tempo todo. A rua é vista de lá, os muitos protestos, a repressão
policial, os tiroteios, as bombas, tudo está lá, mediado pela velha
caminhonete-prisão. Quando a porta do
camburão se abre, o horizonte se insinua, mas logo ela se fecha e voltamos à
tensa dinâmica desse carro-prisão. A
filmagem é muito tensa e intensa. A
agitada câmera na mão chega a incomodar, mas isso é intencional, nos põe no
olho do furacão.
O tempo decorrido é o de um dia de protestos no
centro da capital egípcia, absolutamente revelador do ambiente de confronto,
aparentemente intransponível, que tomou conta do Egito.
O encontro dos detidos no camburão mostra a face
humana, óbvia, que todos têm, encastelados em suas verdades políticas,
religiosas, comportamentais. É, pelo
menos, uma tentativa de empatia, de se colocar no lugar do outro. Única forma de procurar compreender algo para
além das verdades ideológicas estabelecidas por cada grupo. A imprensa, que se arrisca nesse ambiente
conturbado, em busca do registro dos fatos, se sai bem, na visão do filme. Não sem registrar suas discordâncias,
representadas pelos dois jornalistas trancafiados.
O diretor Mohamed Diab já é conhecido do público
brasileiro pelo filme ”Cairo 678”, de 2010, que tratava do machismo e do
assédio sexual às mulheres da cidade do Cairo, nos ônibus. Um trabalho muito bom. Mas “Clash”, do ponto de vista
cinematográfico, é mais criativo na concepção e execução dos planos. Indica, portanto, uma evolução técnica do
trabalho desse cineasta, que merece toda a atenção. Se mais não for, por sua capacidade de lidar
no cinema com questões pungentes do seu tempo e do seu país.
Antonio, considero Clash um filme que teve uma ótima direção e fotografia, mas os dramas pararelos dos personagens me desanimou. Achei em geral vazios e mal construídos, e de certa forma, fez decair um pouco a qualidade da produção como um todo. O que é uma pena, visto que a equipe de filmagem teve muitos desafios durante as gravações externas do filme.
ResponderExcluirAbraços.