Antonio
Carlos Egypto
O QUARTO DE JACK (Room). Canadá, 2015. Direção: Lenny
Abrahamson. Com Brie Larson, Jacob
Tremblay, Joan Allen, William Macy. 118
min.
“O Quarto de Jack” começa como um filme claustrofóbico
e assustador. Mostra uma mãe e uma
criança vivendo num espaço minúsculo de cerca de 10 metros quadrados, sem nunca
sair de lá. Só um homem aparece
regularmente, traz víveres e outras coisas, paga as despesas, vai para a cama
com a mulher e some. A filmagem acentua a exiguidade do espaço e a
estranheza de uma vida num lugar sem janelas, de onde não se pode sair, em que
a luz entra por uma claraboia no teto.
O que está acontecendo? Como essas pessoas vieram parar aí?
A mulher, Joy (Brie
Larson), cuida de seu filho, que acaba de completar 5 anos, Jack (Jacob
Tremblay). Conversa, interage com ele
carinhosamente, faz comida, faz e orienta-o a fazer exercícios, ele vê TV,
dorme e brinca como pode. Ao observar o que se passa por lá, vamos percebendo
pouco a pouco do que se trata, enquanto sofremos a situação e vislumbramos,
depois de uns quarenta minutos de filme, que algo mais poderá suceder.
“O Quarto de Jack” explora bem a situação de uma
criança que nasceu e sempre viveu naquele ambiente fechado, sem contato com
ninguém ou com o mundo. De que forma pode
entender as coisas a partir das informações que recebe, basicamente, da mãe e
da TV? Realidade e imaginação se
embaralham o tempo todo.
O que seria esse mundo em que um dia sua mãe diz que
viveu e que imagens televisivas mostram?
O que acontece de fato e o que não?
Crianças tendem a ter um pensamento mágico, próprio da imaturidade, mas,
quando tudo se confunde, que repertório pode ser desenvolvido para se conseguir
viver no mundo e tentar compreendê-lo?
O filme vai nos levando, de suspense em suspense, e
nos fazendo viver uma situação de terror psicológico constante, quando nos
detemos na vida e no comportamento adulto.
O centro da narrativa, no entanto, é o mundo infantil de Jack, a maneira
como ele apreende as coisas e como atua quando exigido. O que percebe e capta do mundo dos adultos e
o que faz com isso. Nesse registro, tudo
se dá de forma diferente, até os medos são outros.
O filme, uma adaptação do romance “Room”, de Emma Donoghue, descreve uma
situação realista, mas é do mundo interno dos personagens que se trata. Algumas das soluções encontradas não são
muito convincentes. Algumas das reações
de Jack, também não. Mas isso não
importa muito. A trama é boa, consistente
e sintonizada com o nosso tempo. Hoje o
que é real e o que é virtual estão cada vez mais mesclados, de modo que todos
vivemos, de algum modo, o drama de Jack.
Os protagonistas de “O Quarto de Jack”, a atriz Brie
Larson e o menino Jacob Tremblay, têm ótimo desempenho. Impossível não sofrer com eles, não torcer
por eles. Em especial, pelo garoto, um
belo achado do diretor Lenny Abrahamson.
O filme, produção do Canadá de língua inglesa e da
Irlanda, concorre ao Oscar 2016. Tem
méritos para ser lembrado. Dificilmente
terá chance como melhor filme, mas concorre também como melhor roteiro adaptado
e melhor atriz, para Brie Larson. Quem
sabe?
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