Antonio
Carlos Egypto
O LOBO DO DESERTO (Theeb). Jordânia, 2014.
Direção: Naji Abu Nowar. Com Jacir Eid,
Hassan Mutlag, Hussein Salameh, Marji Audeh, Jack Fox. 100 min.
“O Lobo do Deserto”, produção capitaneada pela
Jordânia (com Emirados Árabes, Qatar e Reino Unido), concorre ao Oscar 2016 de
filme estrangeiro. Está entre os cinco
selecionados para a disputa. É produto
de um diretor estreante, Naji Abu Nowar, que mostra inegável talento na
filmagem de uma história centrada na figura de uma criança, o Theeb, do título
original, que vive uma jornada de imenso perigo e sobrevive.
O contexto histórico não fica muito claro para
nós, mas estamos no deserto da Arábia, em 1916, em meio à Primeira Guerra
Mundial.
Theeb (Jacir Eid), que significa lobo, vive
numa tribo beduína em algum ponto distante do Império Otomano. O menino convive
com seu irmão maior, que procura lhe ensinar o estilo de vida beduíno. O sheik,
seu pai, morreu recentemente. E é da
perspectiva iminente da morte, todo o tempo, que vive a narrativa centrada no
menino.
Vemos a chegada de um oficial britânico
àquelas paragens, pedindo ajuda para localizar um poço romano, no caminho para
Meca, antiga rota de peregrinos, agora tomada por bandidos, mercenários,
revolucionários e corsários. E Theeb, mesmo a contragosto dos viajantes,
acompanha o irmão, o oficial e seu companheiro, numa jornada repleta de
perigos, tiroteios e mortes, que remete ao gênero western. As linhas de trem
anunciam que os camelos vão cedendo a vez ao progresso.
O filme, ao se focar na figura do menino, se
exime de explicar melhor o contexto.
Tanto quanto nós, espectadores, o menino não sabe o que está
acontecendo. Porque as pessoas se matam
nesse local do deserto, o que está em jogo, que papel tem o oficial inglês
nessa história e o que ele carrega consigo que parece valioso. A Theeb cabe,
prematuramente, se defender, se esconder, sair de um poço onde caiu, manejar
armas, conviver com um homem que não conhece e não sabe direito a que veio,
escalar montanhas de pedra e, enfim, tentar sobreviver.
O clima de tensão é criado ao explorar em
panorâmicas ao mesmo tempo um ambiente misterioso, belo e assustador, e ao
focar bem de perto a figura de Theeb, seu irmão maior e outros personagens,
colocando-nos dentro da ação. Uma ação,
como disse, um tanto incompreensível.
Estamos vivendo os fatos como se fôssemos uma criança, como é Theeb, com
cerca de 10 anos de idade. É
evidentemente assustadora a jornada vivida pelo menino.
A trama não desvenda propriamente o mistério,
mas constrói um conjunto de situações que não só envolve o espectador como o
intriga. Tudo vai ficando um pouco mais
claro à medida que os eventos se sucedem.
A sequência final fecha bem a trama.
Até surpreende, mas o mistério das relações envolvidas permanece.
É uma bela produção, muito bem realizada. Uma boa surpresa em termos cinematográficos
esse filme da Jordânia, que já conquistou alguns prêmios importantes, como um
BAFTA, distribuição garantida em muitos países e disputa o Oscar dentro de
alguns dias.
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