Antonio
Carlos Egypto
OVELHA NEGRA (Hrútar).
Islândia, 2015. Direção: Grímur
Hákonarson. Com Sigurour Sigurjónsson,
Theodór Júlíusson, Charlotte Böving, Jón Benónysson. 93 min.
Na Islândia, um país nórdico de baixa densidade populacional,
há mais carneiros e ovelhas do que gente.
São cerca de 800 mil desses animais, para um contingente populacional de
320 mil pessoas. Compreensível, portanto, que “Ovelha Negra” construa sua
narrativa em torno desse relacionamento dos seres humanos com os animais. Os irmãos Gummi (Sigurour Sigurjónsson) e
Kiddi (Theodór Júlíusson) criam e cuidam de rebanhos de ovelhas e disputam
entre si não só os prêmios anuais para os melhores espécimes, mas o próprio
espaço comum que herdaram dos pais. E o mais incrível: não se falam há quarenta anos. O meio de contato, quando necessário, é um
cachorro que serve de mensageiro.
A Islândia tem vulcões e água quente disponível em
grandes proporções, mas tem um clima muito frio, em que a neve abunda e as
paisagens dominadas por montanhas glaciais encantam. A terceira maior geleira do mundo se encontra
lá. As geleiras ocupam 15% do seu
território. Muito apropriado que no filme “Ovelha Negra” terríveis nevascas
entrem na história e, de quando em quando, alguém tenha de ser socorrido em
meio à forte neve, antes de que congele.
Grandes espaços se abrem para serem enquadrados pelas
câmeras numa região de fazendas agrícolas, nos arredores das montanhas
nevadas. Tudo muito bonito e tão
convincente que dá para sentir o frio dentro do cinema, mesmo acabando de
passar por uma temperatura de mais de 30 graus lá fora. Claro que o cinema tem ar condicionado, mas é
mais do que um simples refresco o que se sente diante das imagens cobertas de
gelo que ocupam a telona.
Tudo isso pode ser interessante e exótico, mas o
filme de Grímur Hákonarson vai muito além.
Ele nos coloca diante do problema da difícil convivência humana, que
pode comprometer relações fraternas, da competitividade, do orgulho ferido, da
complexa teia de comportamentos que avançam e retrocedem no afeto que as
envolve, na solidariedade, a necessária e a possível, no desmoronar de
barreiras aparentemente indestrutíveis.
É um filme humanista e sensível, cercado de uma natureza
exuberante e muito branca, em belos enquadramentos e ovelhas por todos os
lados, brancas ou negras. Conta com dois
atores veteranos como protagonistas, que conduzem com muita força e dedicação
seus personagens.
“Ovelha Negra” representou a Islândia na disputa pelo
Oscar de filme estrangeiro, depois de ser escolhido como o melhor filme da
mostra “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes.
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