Antonio
Carlos Egypto
HOMEM IRRACIONAL (Irrational
Man). Estados Unidos, 2015. Direção e roteiro: Woody Allen.
Com Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey, Jamie Blackley, Tom Kemp.
96 min.
Woody Allen, em seu novo filme, cria um personagem
que representa o protótipo do homem racional, como nós costumamos nos chamar,
para nos distinguir do resto dos animais.
Abe Lucas (Joaquin Phoenix) é filósofo, professor universitário, com um
pensamento inovador e radical. Chamado a
lecionar numa universidade de uma cidade pequena dos Estados Unidos, ele se
destaca como uma celebridade intelectual.
Apesar de ser triste, desanimado com a vida, pouco sociável e até mesmo,
impotente.
Essas características associadas ao intelectual já
dão a pista do que Allen quer discutir: até que ponto pode chegar o ser humano
mais ilustrado e sofisticado, para reencontrar o prazer de viver?
Um impulso vital, total e completamente irracional,
pode ser capaz de modificar uma pessoa que passou a vida estudando, tentando
compreender a existência e se valendo do espírito crítico? Somos frágeis ao ponto de nos deixar dominar
por pulsões primitivas que nos associem
mais ao homem das cavernas do que ao moderno homem urbano, culto e
refinado?
Ou, por outro lado, nossa racionalidade pode se
colocar ao lado do impulso e guiá-lo rumo à “justiça” pelas próprias mãos,
ignorando qualquer sentido coletivo? Ou
seja, mais do que simplesmente racionalizar algo, podemos criar verdadeiras
filosofias que acabem por levar a um crime sem culpa? Pior, um crime visto como
justo, reparador e necessário?
Como se pode ver, não é pouca coisa que se pode
extrair de “Homem Irracional”, de Woody Allen.
Acompanhar a trajetória desse intelectual nessa sua carreira
universitária no interior, que acaba por abrir-lhe uma perspectiva nunca antes
imaginada, e muito menos vivida, nos coloca diante de uma questão que
assusta. E surpreende, vindo de quem
vem. Por isso, esses questionamentos se
colocam.
A relação do professor com uma aluna jovem e
brilhante, cheia de sagacidade e esperteza, Jill (Emma Stone), faz o
contraponto preciso do ponto de vista ético.
E mostra também do que é capaz o afeto, além da disponibilidade para
ouvir e se colocar no lugar do outro.
Para o bem e para o mal.
A outra relação, paralela, que acontece entre Abe e
outra professora, Rita (Parker Posey), que dá em cima dele sexualmente, também
se coloca no terreno dos desejos e instintos.
Portanto, fora do campo racional.
E entre doutores.
Somos seres tão irracionais quanto somos
racionais. Essa é uma das tragédias do
ser humano. O viver racional é limitado,
insuficiente, não importa quanta sofisticação intelectual possa ser agregada a
ele. No domínio do irracional, podemos
perder totalmente o controle e sucumbir diante do que não podemos dominar, por
mais que tentemos.
Refletir sobre essas coisas todas por meio do cinema
de Woody Allen é uma delícia. Uma
filmagem leve, bem humorada, com bons desempenhos dos atores e atrizes, e
sempre uma trilha sonora que é um primor de bom gosto, é o que nos espera. E o filme, com certeza, não acaba quando
termina. Fica germinando na nossa mente.
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