Antonio
Carlos Egypto
NUMA ESCOLA DE HAVANA (Conducta). Cuba, 2014. Direção e roteiro: Ernesto Daranas. Com Alina Rodríguez, Armando Valdéz Freire,
Silvia Águila, Yuliet Cruz. 108 min.
O filme cubano “Numa Escola de Havana” vai
sensibilizar e interessar a todos os que acreditam no processo educacional
realizado com afeto, dedicação e respeito pelos alunos. Quem crê na educação como fonte de
crescimento e desenvolvimento humanos, não deixará de se comover com a
complicada trajetória do garoto Chala (Armando Valdéz Freire) e sua professora,
uma educadora de mão cheia, Carmela (Alina Rodríguez), que parece ser a única
pessoa capaz de compreendê-lo.
Não é mesmo uma tarefa fácil acolher Chala. Ele, aos 11 anos de idade, já é bem escolado
nas malandragens da vida. Treina cães de
briga e pega pombos no ar, para conseguir alguns trocados para sobreviver. Sua mãe, viciada em drogas, não é capaz de se
sustentar, muito menos de cuidar do filho, de quem não sabe ao certo quem seja
o pai.
Num quadro assim, se a escola se omitir, uma vida
estará irremediavelmente comprometida, perdida para o crime e a violência, o que
já se anuncia. Mas a professora Carmela,
já há cinquenta anos em atividade, tanto quanto os dirigentes cubanos, como ela
cita no filme, conhece bem seu trabalho e sua responsabilidade social. Não abre mão deles, nem de sua autoridade em
sala de aula. Mesmo quando o conflito se
agrava e ela tem de enfrentar a supervisão, que exerce controle sobre a escola
pública, com a recomendação de enviar Chala a uma escola de conduta, ou seja,
uma espécie de internato correcional. Ou
quando uma bobagem, como um santinho colocado por uma aluna no quadro de avisos
da classe, pode se tornar um problema para os conceitos de educação leiga
cultivados pelo Estado cubano.
A educadora Carmela faz do respeito profundo pelo
outro sua razão de vida, para além de qualquer burocracia ou regulamento que,
por definição, invertem os valores das coisas e podem produzir muita injustiça
e sofrimento às pessoas. Quem trabalha
em educação sabe que, muitas vezes, esses entraves podem ser fatais para o
processo de educar. E se não forem
enfrentados, de tanto perder batalhas, perde-se a própria guerra.
“Numa Escola de Havana”, por meio da figura da
personagem Carmela, celebra o processo educacional como meio de
libertação. A exemplo das pombas que
anseiam por voar nas mãos do garoto Chala. A grande atriz Alina Rodríguez, que
dá vida à educadora Carmela, faz um belo trabalho que, infelizmente, foi o seu
derradeiro. Ela faleceu em julho
último. Vale a pena vê-la na tela.
O garoto Armando Valdéz Freire, que faz Chala, é
muito expressivo e convincente, num papel que, ao que parece, tem muito a ver
com a sua própria história de vida. E,
naturalmente, com as questões sociais que, na pequena ilha de Cuba ou no nosso
grande Brasil, parecem sempre se aproximar.
“Conducta”, o título original do filme, já foi
exibido em muitos festivais pelo mundo e recebeu prêmios importantes, além de
ser indicado para representar Cuba junto ao Oscar 2015 e ao prêmio Goya
espanhol. Ganhou o de melhor filme no
festival de cinema de Havana 2014.
O filme está sendo apresentado como “Os
Incompreendidos” cubano, com referência ao clássico da nouvelle vague de François Truffaut, de 1959, pela similaridade da
história que é contada. Há muitos pontos
em comum, mas não dá para fazer uma comparação dessas. Se for por aí, “Numa Escola de Havana” também
dialoga com filmes brasileiros de peso, como “Central do Brasil”, de Walter
Salles, de 1998, ou “Pixote”, de Héctor Babenco, de 1980. Mas se o filme de Ernesto Daranas não chega a
esses patamares de excelência, nem por isso deixa de ser um belo produto atual,
que recicla o papel humanista e reparador da educação com talento e beleza.
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