Antonio
Carlos Egypto
MAPAS PARA AS ESTRELAS (Maps To The Stars). Canadá,
2014. Direção: David Cronenberg. Com Julianne Moore, Mia Wasikowska, John
Cusack, Robert Pattinson. 111 min.
Do diretor canadense David Cronenberg pode-se esperar
quase tudo, menos personagens e tramas convencionais. Geralmente, são pessoas que sofrem na carne
algum tipo de trauma, acidente, violência ou mutação. Literalmente na carne, porque a dor está
sempre no corpo e os personagens se movem muito em função disso. Há sempre elementos inesperados ou
misteriosos em jogo.
Em “A Mosca”, de 1986, ele explora a transformação de
homem em mosca, realizada por uma máquina, revisitando com vigor uma história
já filmada anteriormente. Em “Mistérios
e Paixões”, de 1991, fantásticos delírios perceptivos são induzidos pelo uso de
certas drogas. Em “Spider”, de 2002, é a
doença mental, a esquizofrenia, que é mostrada nessa aranha humana que nada tem
a ver com a figura do super-herói. Nele,
acompanhamos o profundo drama psicológico – e físico -- do personagem. Em “Marcas da Violência”, de
2005, um homem marcado por um passado que envolveu luta corporal e morte está
condenado a voltar à tragédia que deu origem a seu sofrimento. São apenas alguns de seus filmes, todos muito
bons, viscerais, provocadores. Mas que
exigem estômago forte para sua fruição.
Em “Mapas Para as Estrelas”, seu filme mais recente,
agora em cartaz, elementos semelhantes aparecem em personagens algo bizarros e
estranhos, num mundo que, por si só, já se destaca pela excentricidade: o do
cinema de Hollywood.
Não há muita novidade na estrela decadente que se vê
preterida no papel que tanto ansiava fazer e mesmo na sua satisfação diante do
problema que acomete sua concorrente. Ou
no intragável ator mirim que alcançou fama e fortuna, mas também tem seus
reveses. Ou, ainda, no psicólogo das
celebridades. Coisas como essas estão
lá, mas não constituem o cerne da história.
Há muitas coisas por trás disso, relações insuspeitas, mistérios e, para
não perder o hábito, deformações físicas.
Mas ele se permite mexer no principal tabu que há: o do incesto. E o faz com originalidade e de um ponto de
vista não convencional.
“Mapas Para as Estrelas” tem um elenco forte, que
segura a barra do cinema de Cronenberg. Julianne Moore, recentemente oscarizada
por “Para Sempre Alice”, está muito bem aqui, também. Mia Wasikowska, muito boa
atriz, o ótimo John Cusack, Robert Pattinson e os outros dão conta dessa trama
que requer muita intensidade dramática por parte de todos.
A gente sai do cinema tocado pela força da temática e
pela força das imagens, um ponto alto do cineasta, que constrói algumas cenas
belas, mas também desconcertantes.
Haverá quem rejeite, atribua todo esse estranho universo retratado no
filme à loucura do diretor. Bem, de
gênio e de louco todo mundo tem um pouco, não é assim?
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