Antonio
Carlos Egypto
CIÚME (La
Jalousie). França, 2013. Direção: Philippe Garrel. Com Louis Garrel, Anna Mouglalis, Rebecca
Convenant. 77 min.
O relacionamento amoroso movimenta o mundo, embala o
mundo. Questões como o enamoramento, o
encantamento por alguém, a fidelidade e o ciúme, sacodem a humanidade desde
sempre.
É um assunto extremamente complicado, de modo que
qualquer tentativa de transformá-lo em manual, teste, teoria comprovada, vai
inevitavelmente passar longe de entender seu dinamismo, fluidez e
complexidade. Por outro lado, é o
assunto mais atraente que se pode encontrar, daí o seu apelo nos romances,
novelas, músicas, peças teatrais, filmes.
O ciúme é um dos componentes mais espinhosos do
relacionamento amoroso, senão o mais.
Shakespeare o imortalizou em seu “Otelo”. Será difícil abordá-lo melhor, com mais
verdade ou intensidade. É fácil cair na
superficialidade, na caricatura. Tratá-lo com acuidade é uma outra história.
O diretor francês Philippe Garrel
consegue transmitir realidade psíquica, quando aborda o tema do amor, o que ele
faz com frequência, em filmes como “Amantes Constantes”, de 2005, “Fronteira da
Alvorada”, 2008, e “Verão Escaldante”, de 2011.
Desta vez, o foco é justamente o ciúme, que impregna a relação de um
casal de atores com dificuldades financeiras.
Louis (Louis Garrel, filho do diretor), e Cláudia (Anna Mouglalis), em
momentos diferentes de vida, experenciaram outros vínculos amorosos. E esses vínculos se imiscuem na história que
eles constroem juntos. Até onde será
possível administrá-los? Que
desprendimento é necessário para aceitá-los como fatos reais? Há, inclusive, uma filha de outro
relacionamento. De que modo rompem a
fantasia do idílio amoroso?
Philippe Garrel filma em preto e
branco, com sutileza e economia, a dimensão psicológica da relação e seus
problemas, sem a pretensão de entendê-la.
Mostra sua complexidade, em tom baixo e leve, apesar da intensidade dos
sentimentos. Expõe o que é, como é, sem
enrolar, sem simplificar ou enganar. E,
naturalmente, sem seguir as fórmulas tradicionais do cinema clássico. Garrel se inspira em Truffaut e na nouvelle vague para desenvolver sua
narrativa.
Louis Garrel, o protagonista
masculino, tem um jeito cool e
desarrumado que o projetou no cinema.
Não está lá apenas na condição de filho.
É um ator competente e bem sucedido.
Já filmou muito sob o comando do pai cineasta. Sua parceira, Anna Mouglalis, a protagonista
feminina, tem uma atuação forte e intensa, mas, ao mesmo tempo, sutil. Belo desempenho.
O filme é uma pequena joia. Pequena, porque dura só 77 minutos. E não precisa mais: está tudo lá, de forma
precisa, bem arrumada, sem subestimar a capacidade do espectador de refletir
sobre a vida amorosa em geral e o ciúme, em particular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário