quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O CINEMA DE ALMODÓVAR


Antonio Carlos Egypto

O cineasta espanhol Pedro Almodóvar é muito conhecido e respeitado no Brasil, assim como no resto do mundo.  Como é comum acontecer, encontra alguma resistência em seu próprio país, mesmo sendo o mais famoso representante do cinema espanhol da atualidade, recheado de prêmios internacionais, inclusive Oscar.  Seus filmes de maior sucesso foram “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” e “Tudo Sobre Minha Mãe”. Entre os mais recentes destaque para “A Pele Que Habito”

Seu trabalho é o que se pode chamar de autoral, no sentido de que ele cria um universo cinematográfico próprio, marcante e facilmente identificável.  Suas cores fortes, seus excessos cênicos, seus personagens extravagantes, suas improváveis tramas, sua atração pelo melodrama e seu humor, marcam sua obra.  E definem um cinema original e ousado, que tem o reconhecimento da crítica e a simpatia do público.  Esse é, aliás, um mérito incrível e raro: é bastante comum o divórcio entre o que agrada a crítica e o que entusiasma o público.

Pedro Almodóvar consegue esse feito porque seu cinema é popular, aparentemente simples, mas lida com questões complexas, como a superação de preconceitos e de moralismos, em busca de uma ampla libertação no terreno dos costumes e de sua consequente ação política.  Brincando, carnavalizando, ele toca fundo nas mazelas humanas e mexe na ferida.  O público se envolve, ri e, quando percebe, está torcendo por personagens que, em outro contexto, o incomodariam ou seriam objeto de discriminação ou rejeição.  Porque ele é capaz de nos fazer entender que a humanidade é recheada de diversidades e coisas estranhas, mas todos são gente, com seus desejos, medos, méritos, falhas, e todos buscam a felicidade.  Cada um a seu modo.  Seu cinema é profundamente humanista e crítico, e muito bem humorado.  Tem a sexualidade no centro da narrativa e é transgressor por definição.





A obra cinematográfica completa de Pedro Almodóvar se compõe de 19 filmes de longa-metragem, realizados entre 1980 e 2013.  Quem quiser conhecer esse trabalho na tela de cinema, que é o melhor meio de aproveitá-lo e avaliá-lo, terá uma grande oportunidade na 38ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, de 16 a 29 de outubro, que irá apresentar uma retrospectiva com os filmes do diretor.  Quem perder essa chance, ainda pode se valer das cópias em DVD dos filmes, das exibições deles on line ou pela TV paga.

Foi lançado, também, o meu livro “Sexualidade e Transgressão no Cinema de Pedro Almodóvar”, pela SG-Amarante Editorial.  O livro aborda a obra do cineasta, tratando de todos os 19 longas-metragens realizados por ele, focalizando a sexualidade e a transgressão na sua fabulação.  Considera a importância e a representatividade do trabalho autoral do cineasta na contemporaneidade, enfatizando a compreensão e aceitação da diversidade sexual, e humana, e o tratamento avesso a qualquer tipo de moralismo dado a seus personagens e tramas.  Procura demonstrar a coerência, em toda sua obra, da ideia de sexualidade como libertação.  Além disso, destaca a metalinguagem sempre presente no seu cinema.  Trata, ainda, das relações da obra com o franquismo, origem da postura transgressora que o cineasta adota, buscando esquecer e superar esse passado recente da Espanha.

  

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