Antonio
Carlos Egypto
FOXFIRE – CONFISSÕES DE UMA GANGUE DE GAROTAS (Foxfire – Confession d’un gang de filles). França, 2012.
Direção: Laurent Cantet. Com
Katie Coseni, Raven Adamson, Briony Glassco, Ali Liebert, Madeleine Bisson,
Claire Mazerolle. 143 min.
Que as meninas – e as mulheres – sofrem nas mãos dos
homens ninguém tem dúvida. Assédio,
estupro, desrespeito, humilhação. As
mulheres, com bastante frequência, são tratadas como objetos. Desejadas e, ao mesmo tempo, desrespeitadas.
O machismo gera raiva e pede reação. Uma reação que pode vir de meninas bem
jovens, na faixa dos 15 anos de idade.
E, à medida que surte efeito, não só reforça o comportamento como
evidencia a necessidade de umas ajudarem as outras a se vingarem dos homens que
as desrespeitam.
Foi assim que nasceu Foxfire, a gangue de garotas concebida por Joyce Carol Oates, no
livro que se tornou um best-seller e
recebe agora sua segunda adaptação cinematográfica. Desta vez, a cargo de Laurent Cantet, o
diretor do brilhante e premiado “Entre os Muros da Escola”, de 2008.
A trama é contada por uma das meninas da gangue,
Maddy (Katie Coseni), que vai relatando sua experiência com as garotas até se
afastar do grupo e saber dele tempos depois. Quem comanda a gangue com
determinação e um componente alucinado e autodestrutivo é Margareth (Raven
Adamson). Da vingança, ela parte (e leva
o grupo) para uma vida comunitária independente, na Nova York dos anos 1950, romanticamente inspirada nos
relatos do avô socialista, que discute o lugar de Deus na vida das pessoas, e
que lembra com nostalgia os ideais e lutas que o moveram no começo do século
XX.
Essa referência ideológica, que leva até à ideia de
que Margareth possa ter se integrado ao grupo revolucionário liderado por Fidel
Castro em Sierra Maestra e participado da conquista do poder em Cuba, no final
da década retratada, é o que de menos consistente tem a história.
Tudo o que a gangue de garotas vive é uma
experiência, primeiro, de aprender a lidar com homens e colocá-los em seu
devido lugar, ainda que para isso se valham da ilegalidade e também da
violência. Pagando na mesma moeda. Uma forma de feminismo imaturo e radical, sem
possibilidades de maior elaboração ou reflexão.
Depois, para viver livre de amarras familiares e convenções sociais,
elas lembram os hippies avant la lettre. Roubar para poder sobreviver não é bem um
ideal socialista, ou anarquista. Pode
ser, no máximo, uma tática de luta em um contexto bem específico. Por aí, a questão fica mal colocada e soa
forçada. Já o cotidiano da experiência
da gangue de meninas adolescentes é rico e revelador.
As jovens atrizes que compõem a gangue estão ótimas,
mostrando o talento do diretor para lidar com estreantes e não atores. Como seu deu, também, em “Entre os Muros da
Escola”.
“Foxfire – Confissões de uma Gangue de Garotas”
merece atenção e mostra um outro lado e uma outra época, embora ainda recente,
em relação a “Bling Ring”, de Sofia Coppola, há pouco exibido, e que traz o
consumismo e as celebridades como referências de um comportamento feminino
também transgressor como este. Meninas
formando gangues, agindo fora da lei, estarão na moda?
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