sexta-feira, 11 de maio de 2012

LUZ NAS TREVAS

Antonio Carlos Egypto




LUZ NAS TREVAS – a volta do Bandido da Luz Vermelha.  Brasil, 2010.  Direção: Helena Ignez e Ícaro C. Martins.  Roteiro original: Rogério Sganzerla.  Rogério adaptado: Helena Ignez.  Com Ney Matogrosso, André Guerreiro Lopes, Sandra Corveloni, Djin Sganzerla, Maria Luísa Mendonça, Bruna Lombardi, Simone Spoladore.  83 min.


“O Bandido da Luz Vermelha” é um dos grandes clássicos do cinema brasileiro, realizado por Rogério Sganzerla, no ano de 1968, tendo como protagonistas Paulo Vilaça e Helena Ignez. 

Rogério tinha um roteiro para retomar o grande personagem que foi o bandido da luz vermelha, mas não chegou a concretizar o plano.  Morreu em 2004.  Helena Ignez, grande atriz de filmes fundamentais do nosso cinema, que foi sua mulher, acabou, como ela mesma diz, herdando esse projeto.

É daí que vem “Luz nas Trevas – a volta do Bandido da Luz Vermelha”, idealizado por ela, que divide a direção com Ícaro C. Martins, a partir da sequência imaginada por Sganzerla.  Na verdade, não é bem uma sequência, mas uma reinvenção do personagem e de seu filho, o bandido Tudo ou Nada, que seria uma espécie de continuador da obra do pai.  O que se passa é que o mundo mudou, e muito.  Os valores que estão em jogo são outros, as possibilidades para um marginal criativo e original, diferentes.



Helena Ignez procurou criar, por meio de cenas que não se preocupam propriamente em contar uma história, uma possibilidade de refletir sobre os fatos, o personagem, seu possível continuador, o mundo em que estamos e o próprio cinema.  Viu em Ney Matogrosso a figura forte para reencenar o famoso bandido e o papel de seu filho Tudo ou Nada foi interpretado por André Guerreiro Lopes.  Interpretações marcantes.

As mulheres que se relacionam com esses bandidos são vividas por atrizes de primeira grandeza, como a própria Helena Ignez, em pequena participação, Sandra Corveloni, Maria Luísa Mendonça, Bruna Lombardi, Simone Spoladore e Djin Sganzerla.  O elenco do filme não fica por aí, conta com a participação de grandes figuras da cultura brasileira, como Sérgio e Duda Mamberti, Arrigo Barnabé, José Mojica Marins, Mário Bortolotto, Paulo Goulart e outros mais.



O filme tem uma trilha sonora muito boa e diversificada, que inclui Jorge Ben Jor, Gilberto Gil, Perebah e Jair, Paulo Sérgio, Lenin Gordin e, é claro, Ney Matogrosso, cantando “Sangue Latino”, em arranjo especialmente concebido para o filme.

“Luz nas Trevas” é um filme forte, intenso, mas não é um filme de ação.  É muito mais um filme de reflexão, com direito até a monólogos filosófico-existenciais, protagonizados por Ney Matogrosso vivendo o bandido solitário na prisão.  E que até questiona o modo como teria morrido, o que, cinematograficamente, justificaria sua reinvenção.  Difícil não se envolver, em que pese a narrativa fragmentada, que contrasta com o gênero policial, que é a referência da película.

O diálogo das cenas atuais, de colorido intenso, com as do preto e branco do original de Sganzerla, é muito bem feito.  É revelador de um diálogo de dois tempos, duas épocas, dois mundos distintos.  E, no entanto, também indica o sentido da retomada de um dos maiores personagens da história do nosso cinema.

“Luz nas Trevas” já foi exibido no Festival de Locarno, na Suíça, onde ganhou o prêmio Boccalino D’Ouro de melhor filme, nos Festivais de San Diego e Santa Bárbara, nos Estados Unidos, recebeu menção honrosa no Festival Amazonas Filme 2010, além do prêmio de direção e melhor filme pelo público, no Cine Esquema Novo 2011.

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