Antonio Carlos Egypto
PARAÍSOS ARTIFICIAIS. Brasil, 2011. Direção: Marcos Prado. Com Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno. 96 min.
Amores fugazes, relacionamentos intensos que podem ser esquecidos, ou, para usar um termo atual, deletados, desejos que podem ser interrompidos pela morte ou por uma traição, uma omissão ou uma mentira. Tudo isso mediado, explicado, talvez, pelo uso de drogas psicoativas em profusão. O que podem produzir os paraísos artificiais, fundados no prazer que tal consumo de drogas propicia? O que vem junto? E o que vem depois?
O triângulo amoroso de “Paraísos Artificiais” envolve a DJ Erika (Nathalia Dill), sua amiga e companheira Lara (Lívia de Bueno) e a entrada em cena de Nando (Luca Bianchi). Tudo muito intenso, mas também rápido, passageiro, por diferentes razões, todas vinculadas de algum modo às drogas psicotrópicas.
O diretor Marcos Prado, conceituado documentarista, põe em cena o mundo das festas rave, que envolvem milhares de pessoas ao som de música eletrônica, por dias inteiros, em paradisíacas praias do nordeste brasileiro, no caso, de Pernambuco. Mas tem também a vida no Rio de Janeiro e o reencontro em Amsterdã, cidade geralmente associada a um consumo mais liberal de drogas, por conta da política de redução de danos firmemente estabelecida na Holanda.
Mais do que ao expor a trama de encontros e desencontros amorosos dos personagens, o que se destaca no filme é a apresentação da realidade desse consumo de drogas estimulantes e alucinógenas, tendo o ecstasy como destaque, e o mundo dessas festas rave.
Pais, educadores e o pessoal da geração mais velha podem se surpreender com o que está rolando solto por aí nessas baladas. Desde a linguagem, o tipo de vínculo, a música e a relação com as drogas, tudo soa um tanto grave e preocupante. “Paraísos Artificiais” se vale do ambiente de luzes, cores e sons, para produzir cenas atraentes, do tipo psicodélico, mas compartilha com o espectador dessa mesma preocupação. Vai além, deixa explícito que esse caminho é dramático e pode ser sem volta. Uma espécie de vale-tudo, em que não se tem controle de quase nada.
Se uma vida cheia de controles e normas costuma ser opressiva e desestimulante, uma vida assim tão sem limites tem efeitos corrosivos e devastadores. Acaba levando à prisão, tanto no nível psicológico, como no concreto, legal. Mas “Paraísos Artificiais” não é um filme moralista, que faça pregação contra as drogas. É muito mais a expressão de uma realidade que produz perplexidade. Nesse sentido, o filme tem um caráter documental, o de construir na ficção o que se pode encontrar por aí. E que precisa ser mostrado, para que alguma reflexão possa iluminar os caminhos para lidar com a questão. Assim, é um trabalho respeitável e que merece atenção.
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