Tatiana Babadobulos
Heleno. Brasil, 2011. Direção: José Henrique Fonseca. Roteiro: José Henrique Fonseca e Fernando Castets. Com: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Angie Cepeda, Herson Capri. 116 minutos.
Quem acompanha futebol e conhece histórias de “jogadores problemas”, como Romário, que tinha fama por não gostar de treinar; Edmundo, que adorava uma briga; Adriano, demitido recentemente do Corinthians, por viver se metendo em confusão, saiba que todos esses, do nosso tempo, têm um precedente. O nome dele era Heleno de Freitas e jogava no Botafogo, do Rio de Janeiro, nos anos 1940.
Sua história é contada no longa-metragem “Heleno”, e tem Rodrigo Santoro na pele do protagonista. A fita tem previsão de estreia no dia 30 de março.
Em entrevista coletiva realizada em São Paulo, o diretor José Henrique Fonseca (“O Homem do Ano”) explica que não se trata de “um filme sobre futebol”, mas há elementos que devem agradar ao amante do esporte. “O filme é cercado de futebol”, diz o diretor, citando a camisa sem número, tal como era usada na época, a bola, que era diferente, assim como o tecido da camisa e a chuteira.
O filme se passa no Rio de Janeiro e cumpre um arco que vai do auge da carreira do jogador, no Botafogo (Rio de Janeiro), até a sua morte, em um asilo em Barbacena (Minas Gerais). Heleno era intempestivo, fumava, bebia, era boêmio, cheirava éter e contraiu sífilis, causa de sua morte, já que se recusava a fazer o tratamento. Nesse meio tempo, porém, quando não estava com a esposa Silvia (Alinne Moraes) ou com a amante Diamantina (a colombiana Angie Cepeda), uma cantora do Copacabana Palace, onde morou, estava no clube, se achando o melhor jogador do mundo, que fazia tudo sozinho, apesar dos companheiros de equipe, sempre por amor à camisa. Coisa que não se vê mais hoje em dia. Como lembrou Zé Henrique, na coletiva, “Adriano foi jogar no Flamengo pelo amor ao Flamengo mais um milhão”. É bem por aí o que acontece hoje em dia.
Rodrigo Santoro, que também atua como produtor do longa, lembra que ser jogador naquela época era diferente de atualmente. “A diferença é a mídia”, completa, lembrando que, para a época na qual viveu, Heleno era cheio de atitude. “Ele tinha uma relação com a plateia, se deliciava movendo a multidão. Pulava no alambrado, era vaiado ou aplaudido”, diz Rodrigo, que já tinha ouvido falar do jogador, mas acredita que a sua geração não o conheceu. “Meu avô tem 95 anos e ficou emocionado quando contei sobre o filme. Ele disse que jogava muita bola, mas adorava uma confusão.”
Anos 1940
Para criar o clima dos anos 1940 na película, o diretor optou por filmar em preto e branco juntamente com o diretor de fotografia Walter Carvalho (“Central do Brasil”). “Primeiro pela cor perfeita para esse filme, e também porque é fetiche de todo cineasta fazer filmes em preto e branco”, esclarece o diretor. Segundo ele, com o preto e branco muita coisa pode ser imaginada. “Não precisamos recriar a cor exata da cortina do Copacabana, por exemplo”, diz.
Outro recurso para levar o espectador à época é a câmera baixa nas cenas de futebol que, aliás, são bem poucas. “Para trazer a realidade da época, escolhemos um jogo para dar ideia dos anos 1940 e não parecer artificial.”
Para viver o jogador, Rodrigo Santoro fez aulas de fundamentos de futebol com o ex-jogador Claudio Adão. “Foi uma das partes divertidas”, explica Rodrigo, que pediu para atuar nessas cenas de modo a entrar de cabeça no personagem. As aulas foram para aprimorar os fundamentos, já que o ator só costuma jogar “pelada” com os amigos. “Heleno também era conhecido por matar a bola no peito, de uma forma que a bola parecia colar no corpo”, arremata.
Para o final do filme, quando o jogador está definhando devido à doença, Rodrigo Santoro perdeu 12 quilos. “Filmamos durante 11 semanas [o que é considerado muito, já que a maioria dos filmes é feita em oito], pois paramos 40 dias para o Rodrigo emagrecer”, completa Fonseca. O custo da produção foi de R$ 8,5 milhões e contou com apoio de Eike Batista. “Ele bancou metade do filme”, acrescenta. “Há oito anos trabalhando para viabilizar o projeto, financiamento está mais difícil hoje e estamos dividindo com outras áreas. Encontrar a locação também foi difícil.”
Para construir sua personagem, Rodrigo Santoro explica que se inspirou em fotografias, foi à cidade onde Heleno nasceu. “Acho que ninguém é bom ou mau, tudo isso existe dentro da gente. O que fiz foi colocar pra fora. É uma personagem que me provocava e fui tentando me aprofundar.”
Alinne Moraes, no papel da esposa de Heleno, explica que nunca gostou de futebol, mas tentou pesquisar um pouco. “A neta do Heleno estava com a gente, e a esposa dele não era uma ‘Maria chuteira’. Ela se apaixonou, teve admiração, era uma grande mulher. Não que ela estivesse se sentindo traída, mas se sentia solitária, principalmente durante a gravidez.”
Heleno tinha o sonho de participar de uma Copa do Mundo, mas, por conta da Segunda Guerra Mundial, os torneios 1942 e 1946 foram cancelados. Outro sonho era jogar no Maracanã. Essa partida, porém, é a incógnita do filme.
Crítica
Poucas pessoas que hoje frequentam o cinema sabem quem foi Heleno de Freitas, personagem-título do longa-metragem “Heleno”. Talvez esse seja um dos problemas para aumentar o interesse do público do filme de José Henrique Fonseca. Mas, ao mesmo tempo, por se tratar de futebol, uma grande paixão nacional, dá para se imaginar as salas cheias. E, para completar, a fita ainda traz Rodrigo Santoro, ator talentoso e de grande sucesso dentro e fora do Brasil.
Pelo fato de a história ser contada de maneira não linear, o vai e vem no tempo cansa um pouco o espectador. O recurso é bastante utilizado quando se trata de uma trama bastante conhecida, o que não é o caso, ainda que se trata de uma história real. O diretor afirma que a opção foi para não fazer um drama e sensacionalismo muito grandes em torno da tragédia.
O preto e branco enaltece a forma e mostra que existe espaço nos cinemas de hoje, haja vista “O Artista”, longa-metragem francês que ganhou o Oscar de Melhor Filme este ano.
Mas o longa-metragem mostra que Heleno era o terror das mulheres, vivia para beber, fumar, cheirar éter. Morreu de sífilis. E magoava a esposa, quando resolvia pular a cerca. Outro ponto bastante explorado é a sua arrogância, já que se achava melhor do que os companheiros de equipe (embora, de fato, fosse). E o foco é sempre nos campos profissional e pessoal, e menos do gramado, de modo que faz com que o longa não seja um filme sobre o futebol, mas um filme que contém elementos futebolísticos. E, mais uma vez, o erro ao exaltar um jogador tempestivo é da mídia, que o idolatra e faz com que ele se sinta maior que ele mesmo. Um erro que é cometido até hoje, e não apenas com craques do futebol, mas também em outras modalidades esportivas.
“Heleno” é um belo filme, ainda que um pouco irregular, mas que desperta a paixão pela camisa e enaltece o trabalho de Rodrigo Santoro, que há muito não precisa provar por que chegou lá!
Heleno. Brasil, 2011. Direção: José Henrique Fonseca. Roteiro: José Henrique Fonseca e Fernando Castets. Com: Rodrigo Santoro, Alinne Moraes, Othon Bastos, Angie Cepeda, Herson Capri. 116 minutos.
Quem acompanha futebol e conhece histórias de “jogadores problemas”, como Romário, que tinha fama por não gostar de treinar; Edmundo, que adorava uma briga; Adriano, demitido recentemente do Corinthians, por viver se metendo em confusão, saiba que todos esses, do nosso tempo, têm um precedente. O nome dele era Heleno de Freitas e jogava no Botafogo, do Rio de Janeiro, nos anos 1940.
Sua história é contada no longa-metragem “Heleno”, e tem Rodrigo Santoro na pele do protagonista. A fita tem previsão de estreia no dia 30 de março.
Em entrevista coletiva realizada em São Paulo, o diretor José Henrique Fonseca (“O Homem do Ano”) explica que não se trata de “um filme sobre futebol”, mas há elementos que devem agradar ao amante do esporte. “O filme é cercado de futebol”, diz o diretor, citando a camisa sem número, tal como era usada na época, a bola, que era diferente, assim como o tecido da camisa e a chuteira.
O filme se passa no Rio de Janeiro e cumpre um arco que vai do auge da carreira do jogador, no Botafogo (Rio de Janeiro), até a sua morte, em um asilo em Barbacena (Minas Gerais). Heleno era intempestivo, fumava, bebia, era boêmio, cheirava éter e contraiu sífilis, causa de sua morte, já que se recusava a fazer o tratamento. Nesse meio tempo, porém, quando não estava com a esposa Silvia (Alinne Moraes) ou com a amante Diamantina (a colombiana Angie Cepeda), uma cantora do Copacabana Palace, onde morou, estava no clube, se achando o melhor jogador do mundo, que fazia tudo sozinho, apesar dos companheiros de equipe, sempre por amor à camisa. Coisa que não se vê mais hoje em dia. Como lembrou Zé Henrique, na coletiva, “Adriano foi jogar no Flamengo pelo amor ao Flamengo mais um milhão”. É bem por aí o que acontece hoje em dia.
Rodrigo Santoro, que também atua como produtor do longa, lembra que ser jogador naquela época era diferente de atualmente. “A diferença é a mídia”, completa, lembrando que, para a época na qual viveu, Heleno era cheio de atitude. “Ele tinha uma relação com a plateia, se deliciava movendo a multidão. Pulava no alambrado, era vaiado ou aplaudido”, diz Rodrigo, que já tinha ouvido falar do jogador, mas acredita que a sua geração não o conheceu. “Meu avô tem 95 anos e ficou emocionado quando contei sobre o filme. Ele disse que jogava muita bola, mas adorava uma confusão.”
Anos 1940
Para criar o clima dos anos 1940 na película, o diretor optou por filmar em preto e branco juntamente com o diretor de fotografia Walter Carvalho (“Central do Brasil”). “Primeiro pela cor perfeita para esse filme, e também porque é fetiche de todo cineasta fazer filmes em preto e branco”, esclarece o diretor. Segundo ele, com o preto e branco muita coisa pode ser imaginada. “Não precisamos recriar a cor exata da cortina do Copacabana, por exemplo”, diz.
Outro recurso para levar o espectador à época é a câmera baixa nas cenas de futebol que, aliás, são bem poucas. “Para trazer a realidade da época, escolhemos um jogo para dar ideia dos anos 1940 e não parecer artificial.”
Para viver o jogador, Rodrigo Santoro fez aulas de fundamentos de futebol com o ex-jogador Claudio Adão. “Foi uma das partes divertidas”, explica Rodrigo, que pediu para atuar nessas cenas de modo a entrar de cabeça no personagem. As aulas foram para aprimorar os fundamentos, já que o ator só costuma jogar “pelada” com os amigos. “Heleno também era conhecido por matar a bola no peito, de uma forma que a bola parecia colar no corpo”, arremata.
Para o final do filme, quando o jogador está definhando devido à doença, Rodrigo Santoro perdeu 12 quilos. “Filmamos durante 11 semanas [o que é considerado muito, já que a maioria dos filmes é feita em oito], pois paramos 40 dias para o Rodrigo emagrecer”, completa Fonseca. O custo da produção foi de R$ 8,5 milhões e contou com apoio de Eike Batista. “Ele bancou metade do filme”, acrescenta. “Há oito anos trabalhando para viabilizar o projeto, financiamento está mais difícil hoje e estamos dividindo com outras áreas. Encontrar a locação também foi difícil.”
Para construir sua personagem, Rodrigo Santoro explica que se inspirou em fotografias, foi à cidade onde Heleno nasceu. “Acho que ninguém é bom ou mau, tudo isso existe dentro da gente. O que fiz foi colocar pra fora. É uma personagem que me provocava e fui tentando me aprofundar.”
Alinne Moraes, no papel da esposa de Heleno, explica que nunca gostou de futebol, mas tentou pesquisar um pouco. “A neta do Heleno estava com a gente, e a esposa dele não era uma ‘Maria chuteira’. Ela se apaixonou, teve admiração, era uma grande mulher. Não que ela estivesse se sentindo traída, mas se sentia solitária, principalmente durante a gravidez.”
Heleno tinha o sonho de participar de uma Copa do Mundo, mas, por conta da Segunda Guerra Mundial, os torneios 1942 e 1946 foram cancelados. Outro sonho era jogar no Maracanã. Essa partida, porém, é a incógnita do filme.
Crítica
Poucas pessoas que hoje frequentam o cinema sabem quem foi Heleno de Freitas, personagem-título do longa-metragem “Heleno”. Talvez esse seja um dos problemas para aumentar o interesse do público do filme de José Henrique Fonseca. Mas, ao mesmo tempo, por se tratar de futebol, uma grande paixão nacional, dá para se imaginar as salas cheias. E, para completar, a fita ainda traz Rodrigo Santoro, ator talentoso e de grande sucesso dentro e fora do Brasil.
Pelo fato de a história ser contada de maneira não linear, o vai e vem no tempo cansa um pouco o espectador. O recurso é bastante utilizado quando se trata de uma trama bastante conhecida, o que não é o caso, ainda que se trata de uma história real. O diretor afirma que a opção foi para não fazer um drama e sensacionalismo muito grandes em torno da tragédia.
O preto e branco enaltece a forma e mostra que existe espaço nos cinemas de hoje, haja vista “O Artista”, longa-metragem francês que ganhou o Oscar de Melhor Filme este ano.
Mas o longa-metragem mostra que Heleno era o terror das mulheres, vivia para beber, fumar, cheirar éter. Morreu de sífilis. E magoava a esposa, quando resolvia pular a cerca. Outro ponto bastante explorado é a sua arrogância, já que se achava melhor do que os companheiros de equipe (embora, de fato, fosse). E o foco é sempre nos campos profissional e pessoal, e menos do gramado, de modo que faz com que o longa não seja um filme sobre o futebol, mas um filme que contém elementos futebolísticos. E, mais uma vez, o erro ao exaltar um jogador tempestivo é da mídia, que o idolatra e faz com que ele se sinta maior que ele mesmo. Um erro que é cometido até hoje, e não apenas com craques do futebol, mas também em outras modalidades esportivas.
“Heleno” é um belo filme, ainda que um pouco irregular, mas que desperta a paixão pela camisa e enaltece o trabalho de Rodrigo Santoro, que há muito não precisa provar por que chegou lá!
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