quarta-feira, 1 de maio de 2024

CINEMA NACIONAL EM CARTAZ

                         

 Antonio Carlos Egypto

 



A PAIXÃO SEGUNDO G. H. Brasil, 2020.  Direção: Luiz Fernando de Carvalho.  Elenco: Maria Fernanda Cândido e Samira Nancassa.  127 min.

 

Com base na obra de Clarice Lispector, “A Paixão Segundo G. H.”, Luiz Fernando de Carvalho tenta filmar (e parcialmente consegue) a vida interior, os pensamentos e o que vem à mente de uma mulher adulta, escultora que vive em Copacabana, quando ela resolve vasculhar o ambiente de sua casa.  Ela perdeu a empregada e começa por inspecionar o quarto da prestadora de serviço, quando se depara com uma barata enorme, que a horroriza. Suas reflexões existenciais, a partir daí, abrangem um pouco de tudo, do ser mulher, dos privilégios da classe social abastada a que pertence, dos anseios, dos desejos, das fantasias, especulações sobre a vida, dúvidas.  O problema é que esses pensamentos ora são fugidios, ora anulam o que veio antes, não são nunca conclusivos, são etéreos, enfim. Alguns efeitos visuais, tornando indefinida ou nebulosa a imagem, dialogam perfeitamente com o que vive a personagem.  Em que pese a boa presença de Maria Fernanda Cândido em cena o tempo todo, o filme inevitavelmente cansa.  Exige uma atenção concentrada imensa e, embora seja composto de frases e falas inteligentes e provocantes, é um exercício penoso assisti-lo.

 



SEM CORAÇÃO.  Brasil, 2023.  Direção: Nara Normande e Tião.  Elenco: Eduarda Samara, Maya De Vicq, Maeve Jenkings, Alaylson Emanuel, Kaique Brito.  93 min.

 

“Sem Coração”, produção de Alagoas, passa-se no litoral desse Estado, no verão de 1996. Numa pequena vila pesqueira, o filme acompanha as ações e preocupações de um grupo de adolescentes, em que destacam Tamara (Maya De Vicq), que vai partir para estudar em Brasília, e seu relacionamento com a discriminada Sem Coração (Eduarda Samara), assim chamada por ter uma cicatriz no peito e pela forma como lida com os meninos, aceitando contatos sexuais sem nenhum afeto.  É um filme simples, que tem alguns achados sugestivos e interessantes, como a baleia encalhada na praia, e que tem sensibilidade para mostrar uma das muitas adolescências reais que existem, para além da categoria geral adolescência.

 



TRANSE.  Brasil, 2022.  Direção: Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães.  Elenco: Luísa Arraes, Johnny Mascaro, Ravel Andrade.  75 min.

Uma atriz, seu namorado músico e um garoto solto na vida, vão vivendo sua modernidade jovem na base do amor livre e na busca de experiência de liberdade e misticismo, por meio de drogas e outros estímulos, em pleno período das eleições presidenciais de 2018. A jovem Luísa integra as manifestações do “Ele Não”, das mulheres que visavam impedir a eleição de Jair Bolsonaro pelo que ele representava de retrocesso.  Misoginia, machismo, homofobia, racismo, defesa da tortura, imposição da maioria sobre as minorias e tudo o mais que o candidato dizia e é escrito na tela, com a sua voz, para não deixar dúvida.  Perplexos, como boa parte da sociedade, eles se sentem acuados e forçados a agir para impedir o pior.  O filme vai até o final da eleição, em segundo turno, com a constatação de que o pesadelo, afinal, se instalou.  E não só os jovens sofreriam muito com isso, mas toda uma sociedade, como se explicita em uma conversa de Johnny com um senhor idoso experiente.  A ideia é boa e deixa claro o que estava em jogo para todos nós, no varejo da política, pelo menos.  Senti falta de uma melhor caracterização dos personagens, eles soam mais como estereótipos do que como figuras humanas concretas.  Mas que refletem o que se sentia naquele momento político, não há dúvida.



Um comentário:

  1. Kkkkkkkkk……. Eu conheço o fim do conto do primeiro filme, mas como sou muito educada, vou calar-me. Grande abraço, Egys!

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