terça-feira, 7 de novembro de 2023

MEU BALANÇO DA # 47 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

O primeiro aspecto a ser ressaltado é a própria existência da Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, já em seu 47º. Ano.  É uma vitória e tanto essa continuidade, passando por todo o período de censura da ditadura militar, a dificuldade de obter apoio publicitário nos primeiros anos, os tempos recentes da extrema direita atacando a cultura, a pandemia.

 

Voltamos à Mostra presencial, após o período da pandemia, em que o evento sobreviveu on line, total ou parcialmente.  Foi bom ver que o público cinéfilo voltou.  As sessões noturnas e de fim de semana cheias, vários filmes tiveram ingressos esgotados, deixando alguns espectadores sem conseguir assisti-los.

 


Houve mudanças nos cinemas que exibiram a Mostra.  Alguns saíram, como o Belas Artes e o Marquise, no Conjunto Nacional, justamente onde fica a Central da Mostra.  Em compensação, vimos a Cinemateca Brasileira em grande atividade durante o evento, não só nas sessões de cinema, como nos debates e lançamentos de livros.  E lá também a inauguração do Espaço Petrobrás, agora uma ampla área coberta. O cinema Sato, na Liberdade, que exibiu filmes orientais da Mostra, teve também muito público.  O Frei Caneca, com 4 salas, recebeu público com intensidade, como de costume. Eu vi o Reserva Cultural com o saguão completamente lotado, numa terça-feira, às 17:30 h.  O Cinesesc, o Itaú Augusta e o Anexo, também tiveram bom público.  Enfim, o cinema voltou a reunir e entusiasmar as pessoas.  Os encontros, conversas, debates sobre os filmes e sobre a programação, correram soltos e isso tudo fluiu muito bem.  Foi uma grande notícia a ampliação dos patrocínios para este ano, com a volta da Petrobrás para o seu papel indispensável de promoção da cultura.  E outros apoios mais.

Também houve problemas: cancelamento de sessões à última hora, atrasos, cinema com projeção escurecida, como o Itaú Augusta, sala 1, ajustes sonoros muito ruins em sessões do Frei Caneca.  Vou citar duas: na sessão do filme “Não Espere Muito do Fim do Mundo”, parecia que o fim do mundo estava mesmo à espreita, tal o volume alto em que o filme foi exibido.  Foi uma das piores experiências que tive, o filme mais barulhento a que já assisti.  Ele até que não seria ruim, não fosse exibido assim.  Em outro dia, também no Frei Caneca, tive que assistir ao belo “Folhas de Outono” com som muito baixo.  O que terá acontecido por lá?  Bem, as outras sessões a que assisti estava tudo OK.  O Cinesesc esteve impecável em termos de projeção e som, mas também teve sessão interrompida por falta de luz.

 

Tudo isso faz parte.  Afinal, é um evento grandioso, que supõe muita organização, é impossível esperar que tudo funcione perfeitamente.  A boa vontade dos monitores e coordenadores de equipe é ótima.  É gente que se desdobra para que tudo funcione. Muitos são novos e não conhecem a rotina da Mostra, não sabem informar muita coisa.  Mas são acessíveis e gentis. 

 

Da cor e da tinta

Quanto aos filmes a que assisti, foram mais de 50.  Já abordei os que me pareceram mais importantes.  Mas tem algumas descobertas tardias, que vale comentar rapidamente, e também uma decepção.  Começando pela decepção, veio com muita expectativa positiva o filme O MAESTRO, de Bradley Cooper, sobre a trajetória de Leonard Bernstein (1918-1991), compositor e maestro consagrado.  Falhou, no entanto, ao privilegiar a vida pessoal em detrimento da obra maiúscula do retratado.  Afinal, por que motivo uma cinebiografia senão pela sua arte?

 

O que vale a pena destacar aqui são três magníficos documentários sobre artes plásticas.  DA COR E DA TINTA, da cineasta chinesa Weimin Zhang, abordou a trajetória do grande pintor chinês Chang-Dai-Chien (1899-1983), que circulou pelo mundo com seu trabalho e morou vinte anos no Brasil, em Mogi das Cruzes. 

 

Anselm, o barulho do tempo

No maravilhoso ANSELM - O BARULHO DO TEMPO (Das Rouschen Der Zeit), do grande cineasta alemão Wim Wenders, foi o trabalho do pintor e escultor moderno Anselm Kiefer que ocupou a tela. Pinturas, esculturas, instalações, grandes projetos de amplo espaço, ao longo de 50 anos de carreira, discutem a existência humana, o movimento cíclico da história, incorporando literatura, poesia, ciência e religião, num filme plasticamente muito bonito, que reflete a obra retratada.

 

O documentário francês RICARDO E A PINTURA, do realizador suíço Barbet Schroeder, retrata e focaliza o trabalho, que envolve grandes painéis, do pintor argentino Ricardo Cavallo.  Além da própria obra, Cavallo dá uma verdadeira aula de história da pintura, comentando trabalhos clássicos. 

 

Ricardo e a pintura

São filmes que vi ao final da Mostra, ou já na repescagem, que me encantaram.  Também gostei da ficção italiana LA CHIMERA, de Alice Rohwacher, a da Mongólia, SE EU PUDESSE HIBERNAR, de Zoljargal Purevdash, do filme belga QUANDO DERRETER, de Veerle Baetens, do da Lituânia, DEVAGAR, de Marija Kavteradze, e, ainda, de ZONA CRÍTICA, do cineasta iraniano Ali Ahmadzadeh.  Espero que todos eles cheguem ao circuito exibidor, para que mais gente possa apreciá-los.

@mostrasp

 

 

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