Antonio Carlos Egypto
Foi
descoberto um documentário brasileiro histórico, realizado entre 1918 e 1920,
numa época em que o próprio conceito de documentário não estava firmado. Claro que os filmes que deram início ao
cinema, realizados pelos irmãos Lumière na França, datados de 1895, são
documentais. Como classificar “A Chegada
do Trem na Estação” e “A Saída dos Operários da Fábrica Lumière” de outra
forma? Eram filmes só com 50 segundos de
duração cada um, conquanto haja mais de 1000 filmes desses.
Enfim,
o documentário em questão é AMAZONAS, O
MAIOR RIO DO MUNDO, realizado por Silvino Santos (1886-1970), cineasta
luso-brasileiro, e tem 66 minutos de duração.
Esse filme estava desaparecido, considerado como perdido, desde meados
dos anos 1930. Surpreendentemente, foi reencontrado,
com título alterado, como se fosse norte-americano, pelo Arquivo Nacional de
Cinema da República Tcheca. Imagine só.
Foi lá que foi identificado e suas imagens disponibilizadas para a Cinemateca
Brasileira, por Klára Trsková, que fala português (de Portugal) e esteve
presente em vídeo ao debate realizado após o filme, aqui na Cinemateca, em 22
de novembro de 2023, com Eduardo Morettin, Sávio Luís Stoco, mediado por Giuliana
de Toledo.
O
desaparecimento se explica também porque um colega de Silvino, Propério de
Mello Saraiva, levou o filme para comercializar na Europa, mudou o título e o
vendeu como se fosse dele. O próprio
Silvino “refez”, refilmou o seu trabalho, e com o título de “No Paiz das
Amazonas” obteve êxito em 1922.
AMAZONAS, O MAIOR RIO DO MUNDO é
muito bem realizado, mostra enfaticamente a beleza da natureza, em exuberante
fotografia em preto e branco, restaurada.
É bastante didático, ao mostrar festas populares, povos indígenas e,
principalmente, as possibilidades produtivas da Amazônia, com a extração e
comercialização de borracha, da castanha do Pará, do algodão, dos peixes, da
mandioca, etc.. Na verdade, prega a exploração desses recursos sem questionar
as consequências para o meio ambiente.
Seria pedir muito naquele tempo?
Talvez, mas os interesses industriais e comerciais já eram bastante
claros, então.
De
qualquer modo, a redescoberta do filme ajusta os ponteiros para a história do
cinema brasileiro e mundial. Basta dizer
que o primeiro grande documentário conhecido e com destaque na história do
cinema é o franco-estadunidense “Nanook, o Esquimó” (Nanook of the North), de Robert Flaherty, com 83 min., de
1922.
A
Cinemateca Brasileira seguirá realizando exibições do filme, não só em São
Paulo, mas em diversas cidades brasileiras.
Quem tiver a chance de vê-lo vai gostar.
Originalmente mudo, foi exibido com uma trilha sonora original, composta
pelo compositor Luiz Henrique Xavier, que quebra a expectativa da
grandiloquência das imagens com muita eficiência. Os intertítulos em tcheco estão traduzidos.
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