domingo, 15 de outubro de 2023

PRIMEIROS FILMES DA # 47 MOSTRA

Antonio Carlos Egypto

 

 


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Em função de sessões para a imprensa, já pude ver alguns filmes da 47ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e posso comentar.  Lembrar que a primeira semana da Mostra apresenta muitos filmes de novos diretores, aqueles que concorrem ao troféu Bandeira Paulista e que passa, pela clivagem do público.  Os mais votados serão submetidos ao júri.

                                                                                     

É curioso que os dois primeiros filmes de novos diretores a que assisti tratem de um tema similar: o abandono dos filhos pelos pais e mães.  Seria indicativo de uma tendência que preocupa os europeus, já que os dois filmes são europeus?

 

VADIO, filme português, de Simão Cayatte, nos põe em contato com dois personagens centrais.  André (Ruben Simões), um adolescente de 13 anos, abandonado abruptamente pelo pai, sem prévio aviso, numa instituição pública de menores da qual ele, naturalmente, foge.  Ele convive com a vizinha Sandra (Joana dos Santos), jovem mãe, educadora, que deixou para trás sua filha de 6 anos com a avó e não vai vê-la.  Ela desapareceu por um tempo da escola em que trabalha, inclusive. Trata-se, portanto, do encontro entre um filho abandonado pelo pai e uma mãe que abandonou sua filha.  Uma realização modesta, mas correta.  91 min.

 

ESTÁ CHOVENDO EM CASA (Il pleut dans la maison), filme belga dirigido por Paloma Sermon-Daï, mostra dois jovens, uma garota de 17 anos e seu irmão de 15, que vivem numa casa abandonada pela mãe, que some e não cuida deles, nem supre suas necessidades.  A goteira na casa é o mínimo.  Falta tudo o mais, além do afeto. Enquanto a menina se vira, trabalhando como faxineira, seu irmão faz pequenos furtos para ganhar algum dinheiro.  Quando a mãe reaparece, está bêbada, como de costume, e nada tem a dizer aos filhos.  Um bom trabalho que, se não chega a entusiasmar, nos envolve numa questão muito séria. 88 min.

 

O que estaria acontecendo às famílias?  Não são mais os filhos que querem fugir de casa, mas os pais e as mães?  Sintomático, não acham? 

 

Dinheiro Fácil

De diretores mais experientes vi outros dois filmes da Perspectiva Internacional da Mostra 47.  DINHEIRO FÁCIL (Dumb Money), filme estadunidense, de Craig Gillespie, australiano de origem.  O filme nos põe em contato com a realidade da manipulação do dinheiro nas Bolsas de Valores, dos mecanismos para fazer fortuna, que, na incrível história real contada, jovens conseguiram enorme sucesso e o tal dinheiro fácil, contrariando fatores de mercado e fazendo  Wall Street contra-atacar. Não dá para entender tudo que se tenta explicar na trama do filme, sem estar familiarizado com o tal “mercado”.  E o filme, embora bem realizado, não tem muito pique, não consegue empolgar.  105 min.

 

Quem também ficou longe de entusiasmar, na verdade me entediou, foi o filme japonês RODAS E EIXO (Shajiku), dirigido por Jumpei Matsumoto, baseado em livro de George Bataille.  Pretensioso, busca algum tipo de reflexão sobre os caminhos do sexo e do prazer, passando por garotos de programa para chegar a um ménage a trois, supostamente libertador.  Falta ritmo e luz a esse filme (ou será que a cópia que foi exibida é que estava escura demais?).  Não recomendo, mas se quiserem experimentar...  120 min.

 

O que recomendo com entusiasmo é que incluam algum filme do mestre Michelangelo Antonioni dentre os 23 que estão na retrospectiva dedicada à sua obra.  Ver ou rever filmes de Antonioni é sempre algo gratificante, esplendoroso.  Não se iludam com a tal fama da incomunicabilidade, tema de sua trilogia.  Comunicação é o seu forte.  Cinema que faz muita falta.  Deixou saudade.  Sua viúva e colaboradora, Enrica Fico Antonioni, faz parte do júri desta Mostra 47.

@mostrasp



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