quarta-feira, 11 de outubro de 2023

MEU NOME É GAL

Antonio Carlos Egypto 

 



MEU NOME É GAL.  Brasil, 2023.  Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi.  Elenco: Sophie Charlotte, Luís Lobianco, Camila Márdila, Rodrigo Lelis, Dan  Ferreira, George Sauma.  87 min.

 

Creio que ninguém discorda que Gal Costa tenha sido uma das maiores cantoras da música popular brasileira.  Sua partida prematura, em 2022, significou uma grande perda para nossa cultura, ao mesmo tempo em que é hora de celebrar o legado importantíssimo que ela nos deixou. 

 

O filme “Meu Nome é Gal”, muito oportuno, dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, que chega agora aos cinemas, no entanto, não surgiu em função de sua morte, mas para comemorar uma longa carreira musical de 57 anos, 30 álbuns e muitos prêmios.  Pensado pela própria Gal, que gostou da série documental “O Nome Dela é Gal”, realizada por Dandara Ferreira, a convidou para fazer uma ficção sobre sua vida e seu trabalho, com total liberdade, sem condições.  Ainda assim, não haveria como escapar de uma cinebiografia para incensar, homenagear, a artista.  Nada contra.  Gal merece todos os elogios pelo seu trabalho de qualidade impecável ao longo de décadas.

 

A questão estaria mais nos aspectos pessoais: Gal sempre foi muito discreta a respeito de sua vida familiar, sua timidez, sua sexualidade, entre outras coisas.  O filme tratou dessa dimensão com cuidado e elegância, mas não deixou de abordá-las.

 

O centro do filme, porém, é a carreira, a vida artística de Gal Costa.  E, num corte específico, o período dos anos 1960 e 1970, quando surge a identidade artística Gal Costa, deixando para trás a Maria da Graça ou Gracinha e a Bahia de origem.  No Rio de Janeiro, ao lado dos amigos baianos e outros, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dedé Gadelha, Wally Salomão, Torquato Neto, Tom Zé, se tornará a voz feminina do Tropicalismo.  Maria Bethânia não quis exercer esse papel.  Nara Leão estava lá também.  Gal foi uma das vozes mais expressivas e corajosas da contracultura brasileira do período de chumbo da ditadura militar.

 



A ditadura tem tanta importância na história do movimento tropicalista, pela opressão que exerceu junto à sociedade brasileira, que ela é um personagem muito relevante do filme “Meu Nome é Gal”.  E isso é correto. Basta dizer que Caetano e Gil tiveram de amargar prisão e exílio por conta do papel cultural desafiador que exerceram.  Os que aqui ficaram, Gal entre eles, precisaram, como dizia a música de Gil e Caetano que Gal lindamente cantava, estar atentos e fortes, sem medo de temer a morte.  Tudo podia ser “Divino e maravilhoso”, como costumava pregar o empresário Guilherme Araújo, mas tudo era perigoso e o risco, constante.  E um medo permanente.

 

A propósito, o desempenho de Luís Lobianco, como Guilherme Araújo, é um dos destaques do filme, que fez jus à importância que o empresário teve em toda essa história.  Do mesmo modo, a figura de Dedé teve um enorme papel na união e força artística do grupo e do movimento.  A atuação de Camila Márdila, fazendo Dedé, é outro grande destaque do filme.  Rodrigo Lelis, Dan Ferreira, como Caetano e Gil, respectivamente, assim como os demais do elenco, estão bem, porque seguiram uma linha correta de atuação: tentar viver os personagens sem imitá-los, já que são tão conhecidos nos gestos, modo de falar, de se expressar.  Seria caricato, mesmo.

 

O destaque maior, porém, é para a atriz Sophie Charlotte, que faz Gal Costa magnificamente.  E canta muito bem, até com um timbre que lembra o da Gal, sem os mesmos recursos, claro.  Daí ser correta também a opção de usar a voz de Sophie e a voz original de Gal, fundindo-as, de modo que nem sempre fica claro quando é uma ou quando é outra.

 

Essa cinebiografia, que celebra Gal, merece ser vista e o canto dela merece ser ouvido sempre.  É entusiasmante, vigoroso.  Depois do período retratado no filme, Gal continuou fazendo tantas coisas até o final da vida que outros filmes podem se debruçar sobre isso.  Tem muito material, é só querer.  Acho que virá muita coisa mais por aí.



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