Antonio Carlos Egypto
ESTRANHA
FORMA DE VIDA (Strange Way of Life). Espanha, 2022. Direção e roteiro: Pedro Almodóvar. Elenco: Pedro Pascal, Ethan Hawke, Manu Rios,
José Condessa. 31 min.
Pedro
Almodóvar está com filme novo nos cinemas.
E, como sempre, rompendo paradigmas.
Para começar, porque o filme que ele está lançando é muito curto, dura
meia hora, tempo insuficiente para compor uma sessão de cinema. Sendo ele quem é, no entanto, está lá nas
telonas, complementado por uma longa entrevista que deu a uma jornalista,
falando sobre o filme, dissecando seu processo de criação e comentando muita
coisa mais sobre a sua obra em geral e não apenas “Estranha Forma de Vida”.
O
filme é falado em inglês, assim como seu trabalho anterior, “A Voz Humana”, com
Tilda Swinton, também um curta. Aqui
protagonizam o ator norte-americano Ethan Hawke e Pedro Pascal, chileno de
origem, mas com carreira em Hollywood.
Dirigir em inglês significa um desafio a mais para o diretor espanhol,
talvez por isso a opção pelo curta-metragem.
O cineasta experimenta, testa seu sistema de trabalho em outro idioma,
com atores habituados ao padrão hollywoodiano de realização. O resultado é ótimo, sem problemas.
Nesse
filme, Almodóvar encara o gênero western,
algo incomum na sua filmografia, embora ele sempre tenha valorizado alguns
faroestes clássicos e incluído cenas em seus filmes. O universo do gênero lhe interessa, desde que
possa sair dos clichês habituais, que envolvem preconceitos e uma noção de masculinidade,
digamos, restrita a um padrão estereotipado.
Para ele, os cowboys têm de
olhar para seus desejos e a atração física que pode surgir entre dois
homens. Constrói, assim, um faroeste
gay. Procura também fugir do óbvio,
transmitindo pelos diálogos e pela sutileza de atos o clima erótico necessário
ao tema. Foi o que ele fez em “Estranha
Forma de Vida”.
A
inovação da homossexualidade na cena do western
já havia sido encarada por Ang Lee, em “O Segredo de Brokeback Mountain”, que
chegou a ser cogitado para ser dirigido por Almodóvar. O filme de Lee resultou muito bom. Assim como “Ataque dos Cães”, de Jane
Campion, outro excelente trabalho. O que
não impediu Almodóvar de incluir seu toque pessoal nesse curta que explora o
erotismo pelas bordas e constrói uma boa história, que poderia perfeitamente
ser explorada num longa. Se a inspiração
foram os westerns norte-americanos e
os cenários os dos faroestes spaghetti de
Sérgio Leone e outros, a marca literária e visual almodovariana cumpre seu
papel muito bem, sem deixar margem a dúvidas.
E o
que dizer da escolha de um fado, de Alfredo Duarte e Amália Rodrigues, cantado
em português por Caetano Veloso em falsete, como presença musical relevante no
filme? Mais do que isso, que deu nome a
ele? Quem poderia esperar tal contribuição artística a uma obra como essa? Uma incrível quebra de paradigma, embora
totalmente integrada à proposta do filme e de seus personagens. Coisas do gênio espanhol do cinema
contemporâneo.
Gostei bastante! Na verdade com vontade que continuasse mais um pouco.
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