Antonio Carlos Egypto
É
reconhecida a excelência do trabalho do festival de documentários É TUDO
VERDADE já há bastante tempo. Tanto
assim que esta edição, que acontece de 13 a 23 de abril, é a 28ª. do festival,
coordenado por seu criador, Amir Labaki.
E que acontecerá em São Paulo na Cinemateca Brasileira, no Cine
Marquise, no Instituto Moreira Salles SP, no Sesc 24 de maio e no SpCine—Centro
Cultural São Paulo. No Rio de Janeiro, o
festival acontece no Estação NET Botafogo e no Estação NET Rio. Todas as sessões do É TUDO VERDADE tem
entrada franca. Serão 72 produções entre
longas, médias e curtas-metragens de 34 países. A programação inclui ainda
conferências, debates e sessões em streaming.
Dos
filmes em competição, os vencedores dos prêmios dos Júris, tanto brasileiros
quanto internacionais, estarão automaticamente classificados para apreciação na
disputa pelo Oscar do próximo ano. A
cerimônia de premiação do festival está marcada para o sábado 22 de abril, às
18 horas, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. E os filmes vencedores serão reapresentados
tanto em São Paulo quanto no Rio.
Além
das mostras competitivas, de longas/médias e curtas-metragens, brasileiros e
internacionais, haverá mostras não competitivas e programas especiais: O Estado
das Coisas, Foco Latino-americano e Clássicos É TUDO VERDADE.
Dois
ciclos especiais merecem toda a atenção dos cinéfilos, um, do cineasta Humberto
Mauro (1897-1983), com a exibição de filmes e documentários desse grande
pioneiro do nosso cinema. O outro ciclo
é dedicado a Jean-Luc Godard (1930-2022), com a apresentação de 8 episódios da
série História(s) do Cinema, 1987/1988.
Acompanhe
a programação completa em www.etudoverdade.com.br
e
usufrua desse que é um dos nossos mais importantes eventos
cinematográficos. A seguir, comento os
dois filmes que farão a abertura do festival É TUDO VERDADE 2023: SUBJECT, em São Paulo, no dia 12, e 1968 – UM ANO NA VIDA, no Rio de
Janeiro, no dia 13.
SUBJECT, Estados Unidos,
2022. Direção: Jennifer Tiexiera e
Camila Hall. 93 min.
O
cinema documental tem despertado cada vez mais interesse e obtido divulgação
relevante pelo mundo, de modo a alcançar sucesso real de público e de
bilheteria. O que acaba por levar seus
realizadores a ganhar um bom dinheiro com alguns deles. Documentários famosos como “A Escada”,
“Basquete Blues”, “Os Irmãos Lobo”, “Na Captura dos Friedmans” e “A Praça
Tahir”, são abordados pelo filme SUBJECT,
que levanta um grande número de questões éticas a respeito dos
documentários. Um exemplo, é justo que
os produtores e realizadores desses filmes ganhem bastante dinheiro e as
pessoas que abriram suas vidas, foram o tema e objeto dos produtos audiovisuais,
não ganhem nada, o façam, como é habitual, voluntariamente, sem
remuneração? Por outro lado, instituir o
pagamento habitual aos protagonistas reais do assunto retratado não
desvirtuaria a razão de ser do trabalho, gerando um interesse comercial muito
sujeito a manipulação, na própria escolha do tema e das pessoas a serem
retratadas? Deveria o cinema documental
se guiar também pela lógica do cinema comercial? Esse é só um exemplo do que o documentário SUBJECT trata, ao acompanhar, conversar
e registrar a experiência das pessoas que foram documentadas, que foram
retratadas na tela. De que forma a vida
delas mudou a partir da ampla divulgação do filme, nos casos citados
internacionalmente, ao serem colocadas em evidência e terem suas questões e
problemas mostrados? Afinal, elas se tornam
estrelas e sua vida cotidiana será muito afetada por isso. Tanto a popularidade quanto o julgamento
moral, como a mudança de perspectiva na vida familiar, na escola, no trabalho,
nos locais que frequentam. Muita coisa
vai mudar, para o bem e para o mal. Como
lidar com as responsabilidades e consequências produzidas pelos documentários
de sucesso? São muitas as questões
éticas levantadas pelo ótimo SUBJECT. Se ele não encontra as respostas, pelo menos
nos faz sair da sessão cheios de perguntas e dúvidas.
1968 - UM ANO NA VIDA. Brasil, 2023.
Direção: Eduardo Escorel. 91 min.
1968
foi um ano tão emblemático na vida do Brasil e do mundo e as emoções envolvidas
são tantas, e algumas tão penosas, que é possível apagar muita coisa. Mas a irmã do diretor Eduardo Escorel, Sílvia
Escorel, escreveu um diário, Lost, em
que narrou, comentou, fez colagens de fotos, textos, poesias, músicas,
referentes a esse ano de sua vida, o que permite trazer de volta à tela tudo
aquilo que vivemos (ou seja, os que têm pelo menos 60 anos de idade, k,k,k). De maio de 1968 nas manifestações estudantis
na França, passando pela guerra do Vietnã e chegando ao famigerado AI-5 no
Brasil, em dezembro, aconteceu de tudo naquele ano. Os hippies, os Beatles, a contracultura e a explosão
da juventude nos costumes, no sexo, em tudo.
A partir da vida registrada e narrada em off por Sílvia no filme, numa bela edição de Eduardo, repassamos
tudo isso como lembrança, informação ou curiosidade. Depende de como cada um viveu, experimentou,
ficou sabendo, estudou, se posicionou.
Mas que 1968 foi um ano muito especial, não resta dúvida.
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