segunda-feira, 10 de abril de 2023

E TUDO VERDADE 2023

 Antonio Carlos Egypto

 

 


É reconhecida a excelência do trabalho do festival de documentários É TUDO VERDADE já há bastante tempo.  Tanto assim que esta edição, que acontece de 13 a 23 de abril, é a 28ª. do festival, coordenado por seu criador, Amir Labaki.  E que acontecerá em São Paulo na Cinemateca Brasileira, no Cine Marquise, no Instituto Moreira Salles SP, no Sesc 24 de maio e no SpCine—Centro Cultural São Paulo.  No Rio de Janeiro, o festival acontece no Estação NET Botafogo e no Estação NET Rio.  Todas as sessões do É TUDO VERDADE tem entrada franca.  Serão 72 produções entre longas, médias e curtas-metragens de 34 países. A programação inclui ainda conferências, debates e sessões em streaming.

 

Dos filmes em competição, os vencedores dos prêmios dos Júris, tanto brasileiros quanto internacionais, estarão automaticamente classificados para apreciação na disputa pelo Oscar do próximo ano.  A cerimônia de premiação do festival está marcada para o sábado 22 de abril, às 18 horas, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.  E os filmes vencedores serão reapresentados tanto em São Paulo quanto no Rio.

 

Além das mostras competitivas, de longas/médias e curtas-metragens, brasileiros e internacionais, haverá mostras não competitivas e programas especiais: O Estado das Coisas, Foco Latino-americano e Clássicos É TUDO VERDADE.

 

Dois ciclos especiais merecem toda a atenção dos cinéfilos, um, do cineasta Humberto Mauro (1897-1983), com a exibição de filmes e documentários desse grande pioneiro do nosso cinema.  O outro ciclo é dedicado a Jean-Luc Godard (1930-2022), com a apresentação de 8 episódios da série História(s) do Cinema, 1987/1988. 

 

Acompanhe a programação completa em www.etudoverdade.com.br

e usufrua desse que é um dos nossos mais importantes eventos cinematográficos.  A seguir, comento os dois filmes que farão a abertura do festival É TUDO VERDADE 2023: SUBJECT, em São Paulo, no dia 12, e 1968 – UM ANO NA VIDA, no Rio de Janeiro, no dia 13.

 

 


SUBJECT, Estados Unidos, 2022.  Direção: Jennifer Tiexiera e Camila Hall.  93 min.

O cinema documental tem despertado cada vez mais interesse e obtido divulgação relevante pelo mundo, de modo a alcançar sucesso real de público e de bilheteria.  O que acaba por levar seus realizadores a ganhar um bom dinheiro com alguns deles.  Documentários famosos como “A Escada”, “Basquete Blues”, “Os Irmãos Lobo”, “Na Captura dos Friedmans” e “A Praça Tahir”, são abordados pelo filme SUBJECT, que levanta um grande número de questões éticas a respeito dos documentários.  Um exemplo, é justo que os produtores e realizadores desses filmes ganhem bastante dinheiro e as pessoas que abriram suas vidas, foram o tema e objeto dos produtos audiovisuais, não ganhem nada, o façam, como é habitual, voluntariamente, sem remuneração?  Por outro lado, instituir o pagamento habitual aos protagonistas reais do assunto retratado não desvirtuaria a razão de ser do trabalho, gerando um interesse comercial muito sujeito a manipulação, na própria escolha do tema e das pessoas a serem retratadas?  Deveria o cinema documental se guiar também pela lógica do cinema comercial?  Esse é só um exemplo do que o documentário SUBJECT trata, ao acompanhar, conversar e registrar a experiência das pessoas que foram documentadas, que foram retratadas na tela.  De que forma a vida delas mudou a partir da ampla divulgação do filme, nos casos citados internacionalmente, ao serem colocadas em evidência e terem suas questões e problemas mostrados?  Afinal, elas se tornam estrelas e sua vida cotidiana será muito afetada por isso.  Tanto a popularidade quanto o julgamento moral, como a mudança de perspectiva na vida familiar, na escola, no trabalho, nos locais que frequentam.  Muita coisa vai mudar, para o bem e para o mal.  Como lidar com as responsabilidades e consequências produzidas pelos documentários de sucesso?  São muitas as questões éticas levantadas pelo ótimo SUBJECT.  Se ele não encontra as respostas, pelo menos nos faz sair da sessão cheios de perguntas e dúvidas.

 


1968 - UM ANO NA VIDA.  Brasil, 2023.  Direção: Eduardo Escorel.  91 min.

1968 foi um ano tão emblemático na vida do Brasil e do mundo e as emoções envolvidas são tantas, e algumas tão penosas, que é possível apagar muita coisa.  Mas a irmã do diretor Eduardo Escorel, Sílvia Escorel, escreveu um diário, Lost, em que narrou, comentou, fez colagens de fotos, textos, poesias, músicas, referentes a esse ano de sua vida, o que permite trazer de volta à tela tudo aquilo que vivemos (ou seja, os que têm pelo menos 60 anos de idade, k,k,k).  De maio de 1968 nas manifestações estudantis na França, passando pela guerra do Vietnã e chegando ao famigerado AI-5 no Brasil, em dezembro, aconteceu de tudo naquele ano.  Os hippies, os Beatles, a contracultura e a explosão da juventude nos costumes, no sexo, em tudo.  A partir da vida registrada e narrada em off por Sílvia no filme, numa bela edição de Eduardo, repassamos tudo isso como lembrança, informação ou curiosidade.  Depende de como cada um viveu, experimentou, ficou sabendo, estudou, se posicionou.  Mas que 1968 foi um ano muito especial, não resta dúvida.

 

 

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