Antonio Carlos Egypto
Destaque da 46ª. Mostra Internacional
de Cinema, onde foi exibido com o título de BOY FROM HEAVEN (Walad
Min Al Janna), GAROTO DOS CÉUS, embora
não pareça, é um filme sueco, com a participação dos demais países escandinavos
e da França, na produção. O diretor Tarik Saleh, apesar
do nome, também é sueco, sua mãe é sueca, seu pai, egípcio. É no
Egito que se passa toda a trama do filme, que não pôde ser filmado lá e foi,
então, realizado na Turquia.
GAROTO DOS CÉUS é um magnífico thriller, que mexe com
todo o jogo de poder dentro de uma estrutura religiosa, no caso, a do islamismo
sunita. A instituição retratada é a Universidade Al-Azhar, no Cairo,
principal instituição mundial dessa tendência, que parece ter um forte poder paralelo
que tanto fustiga, incomoda, quanto apoia o Estado egípcio. E é influenciada e
manejada por esse mesmo Estado, numa relação perigosa e conturbada.
A trama se baseia num jovem personagem
decidido, mas simples, oriundo de uma aldeia de pescadores egípcia, que recebe
uma Bolsa para estudar em Al-Azhar e se mete no intrincado jogo político para a
escolha do novo Grande Imã, em substituição ao que acabou de falecer.
A eleição desse Imã acontece por
imposições pessoais, assassinatos, denúncias comprovadas que tiram do páreo o
favorito do momento, tudo numa espécie de concílio para lá de comprometido e
comprometedor.
Toda uma teia de relações e
acontecimentos vai sendo tecida, pouco a pouco, por meio de um roteiro muito
bem elaborado, reconhecido e premiado em Cannes. Enquanto enlaça o
espectador na narrativa, o filme desnuda o sórdido esquema político, o jogo de
poder que está por trás, onde não se vê verdade alguma, lisura, comprometimento
espiritual e outras coisas que deveriam caracterizar uma instituição de ensino
e formação religiosos. Veem-se as
relações do poder político com o poder religioso, em confronto interno, por
meio de suas linhas e divisões.
Percebe-se que o diretor e roteirista,
Tarilk Saleh, conhece bem os meandros dessa luta político-religiosa no Egito e
nos ambientes muçulmanos, pelos elementos e detalhes que aparecem na
trama. Quanto à crueldade e à barbárie que se esconde sob a capa da
devoção a Alá, não são muito diferentes das de outras crenças e instituições
poderosas, religiosas ou não, que comandam e sempre comandaram o
mundo. Shakespeare que o diga! Para não entrar em
questões mais próximas de nós, do que está por aqui mesmo.
Elenco: Tawfeek Barhom, Fares Fares,
Mohammad Bakri, Makram Khoury, Mehdi Dehbi. 119 min.
AFTERSUN, do Reino Unido, primeiro longa da cineasta escocesa Charlotte Wells, também foi destaque e venceu o prêmio do Júri de novos diretores, da mesma Mostra. Apresenta uma narrativa inteiramente centrada na relação de um pai de 30 anos com a filha de 11, que acontece num pacote de férias na Turquia. Por meio de pequenos momentos, rotinas de lazer, contatos que surgem, detalhes de todo tipo, com inteligência e perspicácia, vamos percebendo o que está em jogo nessa relação não habitual, já que eles não vivem juntos. Há muito afeto e frustração no ar. E muita fluidez numa trama ao mesmo tempo simples e complexa.
Elenco: Paul Mescal, Frankie
Corio, Celia Rowlson Hall. 98 min.
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