SOL. Brasil, 2021. Direção e roteiro: Lô Politi. Elenco: Rômulo Braga, Everaldo Pontes, Malu
Landim, Luciana Souza. 100 min.
O
drama “Sol”, da diretora Lô Politi (de “Jonas”, 2016, e “Alvorada”, 2021),
coloca em evidência o mundo emocional, a desconexão de sentimentos, a volta do
reprimido, daquilo que não foi ou não pode ser enfrentado, do peso que tem o
retorno ao passado e, ao mesmo tempo, a inevitabilidade desse retorno, sem o
que o sofrimento se torna crônico e permanente.
A
história nos mostra o relacionamento de um pai recém-separado, Theo (Rômulo
Braga), que, há um ano sem encontrar sua filha Duda (Malu Landim), tira férias
só para poder conviver com ela em passeios e hotéis, viajando de carro. Enquanto tenta essa reconexão com a menina,
encontrando dificuldades, é instado, praticamente obrigado, a encarar seu pai à
morte, de quem está muito distante no tempo e no espaço geográfico.
Pouco
adianta rejeitar essa obrigação filial que, aparentemente, nada significa para
ele. Theo abandonou o relacionamento com o pai, Theodoro (Everaldo Pontes), que
o teria abandonado no passado. É imperioso, porém, esse retorno ao que ficou para
trás que se, por um lado, atrapalha seus planos com a menina, trará um novo
elemento decisivo para essa questão: a conexão que se estabelece entre o avô
desconhecido e a neta.
Tudo é
muito travado e difícil na relação pai e filho.
Theodoro se expressa pela mudez, pela rigidez, pela negação da própria
vida. Theo também é calado, distante,
desinteressado em resolver suas questões com o pai. A culpa marca fortemente a vida de
ambos. Somente a espontaneidade da
criança e seu desconhecimento da tragédia pode trazer um respiro a tudo
isso. Não deslinda nem resolve a
situação, o filme não adota uma postura ingênua quanto a isso, mas abre uma
porta, cria uma ponte, ainda que em meio aos escombros de uma casa em processo
de demolição.
Embarcamos,
então, num road-movie, que, estrada
afora, pelo interior da Bahia, vai sendo marcado a cada parada pelo
enfrentamento emocional e pelo impasse.
As águas baianas ganham um forte significado, já apontado desde a
primeira cena do filme.
Do
elenco, basicamente centrado nos três personagens citados, esperam-se
interpretações para dentro, a intensidade de sentimentos, como vulcões em
erupção, tem pouca expressão externa. É
tudo contido, quando não extravasa ou explode.
Rômulo Braga faz um Theo preciso em intensidade e repressão
emocional. Everaldo Pontes vive seu
papel com uma entrega e uma determinação admiráveis pelo apagamento da figura
humana. A jovem Malu Landim cumpre bem o
seu papel como um amálgama de elementos conflitivos e misteriosos, que ela
tenta entender.
O
desenrolar da narrativa, com seu clima tenso e desafiador, produz suspense,
reflexão, questionamentos de vida, perguntas.
Muitas perguntas.
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