Antonio Carlos Egypto
MARIA, NINGUÉM SABE QUEM SOU EU. Brasil, 2021.
Direção e roteiro: Carlos Jardim.
Documentário com Maria Bethânia.
100 min.
Maria Bethânia é um ícone da cultura
brasileira, desde 1964, quando substituiu Nara Leão no espetáculo Opinião e apresentou uma interpretação
arrebatadora de “Carcará”, de João do Vale e José Cândido. Já lá se vão 57 anos de uma carreira como
cantora, intérprete e declamadora de autores, como Fernando Pessoa, Clarice
Lispector e Mia Couto, entre tantos outros. Bethânia é muito conhecida e amada
por um público tão amplo quanto o Brasil, sem contar o seu sucesso no exterior.
Por tudo isso, soa estranho o título do
documentário, em que uma vez mais se homenageia a artista, realizado por Carlos
Jardim: “Maria, ninguém sabe quem eu sou”.
Como assim? Claro que sabemos
quem ela é. O que esse título sugere é
que algo novo e original sobre ela seria revelado. O documentário se vale de um depoimento
inédito, longo, recente, muito articulado, inteligente e perspicaz, que ela deu
ao filme. Mas o que ficamos sabendo que
não se conhecia? Muito pouco, detalhes
de uma vida muito rica, alguns aspectos pessoais menos abordados. E só.
Absolutamente não justifica o título.
Podemos chamá-lo até de propaganda enganosa.
Será que por isso seria melhor não ir
ver “Maria, ninguém sabe quem eu sou”?
Não, de modo algum. Além de
ouvi-la falar, o que é muito bom, pode-se rever muitas gravações de shows, espetáculos e ensaios que nos
mostram a amplitude e o bom gosto de seu repertório e dos textos declamados.
Podemos revê-la ao longo de cinco
décadas de trabalho, em momentos muito interessantes, famosos ou não, em que
ela mostra sua forte presença nos palcos, algo marcante e decisivo em sua vida
e carreira, que ela também comenta na entrevista/depoimento.
Há ainda um conjunto de cinco textos
sobre a importância de Maria Bethânia para a cultura brasileira, escritos por
Ferreira Gullar, Nelson Motta, Fauzi Arap, Caio Fernando Abreu e Reynaldo
Jardim, interpretados por ninguém menos do que a grande dama do nosso teatro,
Fernanda Montenegro.
Como se vê, não é pouco o que nos
oferece o documentário de Carlos Jardim.
O que não cabe mesmo é o título desse filme. Melhor ignorá-lo.
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