Antonio Carlos Egypto
IL BUCO.
Itália, 2021. Direção e roteiro:
Michelangelo Frammartino. Elenco:
Claudia Candusso, Paolo Cossi, Mila Costi, Carlos José Crespo. 93 min.
Do cineasta Michelangelo Frammartino, eu
conhecia seu filme de 2010 “As Quatro Voltas”. Quem, como eu, viu esse
filme, já sabe o que vai encontrar em “Il Buco”: muita beleza. Das locações italianas magníficas no interior
da Calábria, do Parque Nacional de Pollino, da comunidade de San Lorenzo
Bellizi. Das filmagens panorâmicas e à
distância, que acentuam a dimensão das coisas, e a pequenez de figuras como os
seres humanos e os animais, diante da imensidão do ambiente. Da utilização perfeita e minuciosa da luz,
tanto a natural, captada da natureza, quanto aquela da exploração de uma gruta
imensa que avança terra abaixo, em direção ao centro da terra. Da beleza também das imagens que falam por
si, sem precisar de música nenhuma, somente sons e pouquíssimas falas, apenas
murmúrios, algumas vezes. Ou
simplesmente silêncios, silvos ou apitos necessários para comunicação. Cinema em estado puro. Para ser contemplado com atenção, saboreando
cada plano. Os enquadramentos são
preciosos, como verdadeiras pinturas que se movem.
O centro da filmagem diz respeito ao
aparecimento de um enorme buraco, em 1961, no interior da Calábria, no abismo
de Bifurto que, explorado, acabou levando à descoberta da terceira caverna mais
profunda do mundo, com 687 metros abaixo da terra.
É fascinante o que a direção consegue
com a luz, no interior do buraco que nunca termina, ao mostrar um trabalho de
dedicação absoluta que, no entanto, pode passar quase despercebido na
comunidade e desconhecido no país.
O filme privilegia, mas não se fixa
apenas na exploração da caverna natural.
Mostra o trabalho dos espeleólogos sem didatismo, sem destacar a
metodologia ou a tecnologia envolvidas.
Isso está lá, mas mostrado de forma poética, artística. E entremeando com a geografa do lugar, os
habitantes, poucas pessoas, em especial, um camponês velho, que representa o
contexto, os animais, a vida rural.
Ainda faz uma referência aos altos edifícios de Milão, de onde vêm os
exploradores, arranha-céus de 130 metros de altura, que avançam tanto para cima, mas não passam
nem perto do que a caverna avança para baixo.
Mas chamam muito mais atenção.
Com isso, faz também um contraponto
entre o norte rico da Itália e o sul, rural, muito simples, mas belíssimo. “Il Buco” celebra a vida que flui com rara
beleza, mas traz também a tranquilidade de uma morte em plena natureza. Que não surpreende, nem assusta. Acontece.
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