sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A MÃO DE DEUS

Antonio Carlos Egypto

 

 



A MÃO DE DEUS (È Stata la Mano di Dio), Itália, 2021.  Direção e roteiro: Paolo Sorrentino.  Elenco: Filippo Scotti, Toni Servillo, Teresa Saponangelo, Luisa Ranieri, Marion Joubert.  130 min.

 

“A Mão de Deus” não é um filme religioso, nem nome de música de padre cantor.  A expressão remete, na verdade, ao famoso gol de mão de Maradona, da seleção argentina, na Copa do Mundo de 1986.   Mas também não é um filme sobre futebol, embora se alimente dele, nem mesmo sobre o grande craque mundial que foi Maradona, embora ele seja um personagem importante da narrativa.

 

Então vamos lá. “A Mão de Deus” é um painel da vida de um adolescente em Nápoles, nos anos 1980.  Seu convívio com a família, mostrada de forma caricata, na maior parte do tempo, incluindo pais amorosos, mas uma mãe que vive pregando peças nos outros, um irmão mais velho mulherengo, uma tia jovem e bonita, que toma sol nua diante de todos, e um exército de figuras obesas, sobretudo as mulheres, da família e da vizinhança.  Sem falar na nonna, desbocada, que só atua na base do palavrão.  São tipos inspirados em Fellini, que é citado e lembrado ao longo do filme, assim como outros diretores italianos, como Franco Zeffirelli.

 

Por sinal, o destino do adolescente Fabietto (Filippo Scotti) é ser diretor de cinema.  Bingo!  É uma autobiografia de Paolo Sorrentino, o realizador do filme.  Bem, pelo menos, inspirado na história pessoal do cineasta com certeza o filme é.

 

As questões que movem o adolescente estão lá, mostradas em várias sequências que exploram expressivamente o ambiente e o período de vida de Fabietto, seus interesses e preocupações.  Entre eles, o despertar da sexualidade, o amor e perdas irreparáveis que vão dar um tom também de tragédia ao filme.

 



A característica marcante de “A Mão de Deus” é, porém, a leveza, o humor.  A homenagem a Maradona é absolutamente natural, se considerarmos um adolescente vivendo em plena época em que o jogador foi contratado pelo time de futebol do Nápoles e alcançou tamanho êxito, a ponto de ficar conhecido como “o Rei de Nápoles”.  Era a glória, para preencher a vida de um jovem naquele momento.  Mas, como tudo, isso também passa e, no advento da maioridade, a festa do campeonato do time napolitano já não exerce o mesmo apelo de antes.

 

Quanto ao elenco, temos, no papel do pai de Fabietto, Savério, o grande ator Toni Servillo, colaborador habitual do diretor.  Teresa Saponangelo faz a divertida mãe Maria, a bela Luisa Ranieri explora sua sensualidade no papel da desejada tia Patrícia e Marion Joubert faz Marchino, o irmão mais velho e companheiro.  Filippo Scotti, o protagonista adolescente, onipresente na trama, segura muito bem o filme em sua juventude.  E todo o elenco adicional complementa tudo muito bem e acrescentando mais alguns tipos característicos à história.

 

O filme é bonito visualmente, tem um tom poético, mostra relacionamentos pessoais com muito afeto e bem à italiana.  Ou seja, com muita efusividade, gritaria e dramaticidade.  E, naturalmente, envolvidos pela comida. Presta uma homenagem àquele cinema italiano que encantou gerações, com seus mestres.  Paolo Sorrentino é um desses nomes importantes do cinema italiano na atualidade.  “A Grande Beleza”, de 2013, é um de seus trabalhos mais conhecidos.  “A Mão de Deus” levou o Leão de Prata no Festival de Veneza e está indicado à disputa do Oscar de filme internacional pela Itália.  É uma produção da Netflix, está em exibição nos cinemas, mas estará disponível por lá, para os que assinam o serviço de streaming.

 

 

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