Antonio Carlos Egypto
A CRÔNICA FRANCESA (The French Dispatch). Estados Unidos, Reino Unido, 2021. Direção e roteiro: Wes Anderson. Elenco estelar, listado ao final do
texto. 108 min.
Wes Anderson é um cineasta a quem não
falta criatividade. Começando pelo
aspecto visual, a principal razão de ser de um filme. Ele se utiliza dos mais diversos recursos
para compor um universo de imagens único.
Cenografia, ambientação e fotografia produzem um resultado altamente
belo e sedutor, que inclui filmes a cores, em preto e branco, animação e
efeitos diversos. Tudo cabe nessa
construção fílmica, marcadamente autoral.
O universo visual de Wes Anderson é único e inconfundível.
Sua criatividade vai além, histórias
surreais, exóticas, extravagantes e improváveis recheiam essa embalagem de
sonho. O que traz leveza, humor,
homenagens e brincadeiras, compondo um mosaico que representa uma realidade
contemporânea, ou antiga, que dialoga com a contemporaneidade.
Como se não bastasse, ele reúne elencos
do mais alto escalão, em interpretações inusitadas, surpreendentes, em que, com
frequência, os atores submergem nos personagens, a ponto de nem serem
claramente identificados, ao menos, num primeiro momento.
No caso de “A Crônica Francesa”, a
principal curiosidade está na homenagem ao jornalismo e seus diversos campos de
atuação em textos de ficção, publicados por uma imaginária revista
norte-americana, The French Dispatch
Magazine, numa cidade hipotética francesa do século XX. Tudo começa com a morte do amado editor da
publicação e seu desejo de que a revista feche com o seu passamento. Do obituário parte-se para uma série de histórias
que envolvem diários de viagem, reportagem sobre um pintor, sua musa fardada e
nua, sua loucura e seus negociantes, de desmedida ambição. Passa pela discussão da confecção de um
manifesto político decorrente de uma revolta estudantil, em que a colocação das
palavras ocupa espaço central na situação.
E, é claro, não poderiam faltar a polícia e a questão das drogas, um
rapto e jantares gastronômicos, fechando assim os vários setores da abordagem
jornalística.
A valorização da palavra escrita, da
criação, do texto, mostra que daí algo importante vem, transformando as coisas
e o mundo. Recado fundamental associado
ao significado que o jornalismo tem para a vida das pessoas e da sociedade.
Num mundo de internet, fake news, perseguição e risco aos
jornalistas em tantas partes do mundo, a abordagem poderia ter ido mais fundo
no tema, se ligasse o século XX, de algum modo, aos dias atuais. Não importa, essa seria uma possibilidade a
ser explorada, não foi essa a proposta do filme. No entanto, o que “A Crônica Francesa” nos
traz em termos de cinema e visões de realidade é muito bom.
Dizer o que de um elenco que tem
Benício del Toro, Frances Mc Dormand, Adrien Brody, Tilda Swinton, Bill Murray,
Jeffrey Wright, Léa Sedoux, Thimothée Chamelet, Edward Norton, Willem Dafoe,
Mathieu Amalric, Christoph Waltz, Saoirse Ronan, Owen Wilson, Anjelica Houston
e outros, juntos, num mesmo filme? É uma
seleção de talentos tão extravagante quanto a narrativa que os envolve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário