Rodrigo Teixeira, Leonardo Sbaraglia, Edgar Ramírez, Olivier Assayas |
WASP NETWORK.
França/Brasil, 2019. Direção e
roteiro: Olivier Assayas. Com Edgar
Ramírez, Penélope Cruz, Wagner Moura, Gael García Bernal, Ana de Armas,
Leonardo Sbaraglia. 125 min.
Cuba, que sempre sofreu um embargo econômico
brutal dos Estados Unidos, desde que fez sua revolução, sobreviveu no tempo com
a ajuda do bloco soviético. Com a queda
do muro de Berlim e o fim da União Soviética, apostava-se que o regime de Fidel
Castro não sobreviveria. Isso animou os
cubanos anticastristas de Miami, nos anos 1990, a redobrar suas ações, apoiados
pelo governo norte-americano. Realizaram
atos terroristas para minar o turismo e produzir um colapso na economia cubana,
ao lado de novas tentativas de assassinar Fidel (o que já era rotina), entre
outras coisas. Muita espionagem, ações
ousadas e, de outro lado, a contraespionagem e o enfrentamento por parte de
Havana.
A guerra fria esquentava no confronto Miami
versus Havana. Os fatos que marcaram
esse período estão mostrados no filme “Wasp Network”, produção de Rodrigo
Teixeira, dirigida por Olivier Assayas, adaptação do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais.
Olivier Assayas |
Não é apenas um filme de ação e política, no
entanto, o que se vê. É um conceito
humanista de cinema, que dá complexidade aos personagens, fala da relação dos
ativistas, de um lado e de outro, com suas mulheres e crianças, das
preocupações que, pela esquerda ou pela direita, atingem todos. Mostra personagens fortes, de carne e osso e
humanidade. Não é um jogo de vilões e
mocinhos, mas de opções, perspectivas de vida e de política, jogos
estratégicos, traições ou luta suicida por uma causa, ainda que nem sempre
clara. O que faz, por exemplo, com que
um piloto abandone sem aviso mulher e filha em Cuba para atuar em Miami? Que custo pessoal isso tem? Para o próprio e para a família?
“Wasp Network” é um filme complexo, como a situação que aborda, mas que se acompanha muito bem, com um roteiro bem ordenado, uma edição eficiente, boas cenas de ação e um time de atores e atrizes de alto desempenho.
Edgar Ramírez, o ator venezuelano que
protagoniza os grandes momentos da trama, joga com perfeição nas mudanças que
atingem seu personagem. Gael García
Bernal, Wagner Moura e Leonardo Sbaraglia têm atuações preciosas, sutis, ás
vezes ambíguas ou irônicas, mas não perdem as nuances dos seus papéis. Penélope Cruz usa seu talento e beleza para
compor uma mulher intensa, corajosa e cheia de emoções, que dá tom ao filme. Aliás, o elenco feminino tem bastante relevo,
já que o mundo doméstico, familiar, pesa quase tanto quanto a dinâmica política
da espionagem e contraespionagem. E
interfere nela de várias formas.
O filme deve ser lançado oportunamente nos
cinemas, mas não se chamará como agora “Wasp Network”. Possivelmente, “Rede Cuba” ou “Os Últimos
Soldados da Guerra Fria”, seguindo o bom título do livro de Fernando Morais,
algo do gênero.
“Wasp Network” foi o filme de abertura da 43ª.
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Contou com a presença do diretor Olivier Assayas, dos atores Edgar
Ramírez e Leonardo Sbaraglia, além do produtor Rodrigo Teixeira, na coletiva de
imprensa e na cerimônia de abertura.
A retrospectiva do diretor Assayas na Mostra
exibirá mais 14 títulos de sua filmografia e merece toda a atenção pela alta
qualidade artística do seu trabalho.
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