domingo, 11 de novembro de 2018

BALANÇO DA 42ª. MOSTRA


Antonio Carlos Egypto

A 42ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo trouxe entre as suas 300 opções filmes de grande categoria e alto padrão.  Quantos?  Quais?  Aí depende de cada um ou do que cada um conseguiu ver, dentro de suas possibilidades.  Mesmo os que fazem a cobertura jornalística, crítica, do evento estão limitados a um número restrito de títulos.  No meu caso, foram 62 filmes de longa-metragem, ou seja, em torno de 20% da oferta.  Minhas conclusões estão, portanto, sujeitas a essa amostra.

Dentre os filmes de que mais gostei, que percebi como mais trabalhados, aprofundados, criativos ou inovadores, constato que a grande maioria deles estará presente no circuito comercial dos cinemas, após a Mostra.  Alguns podem demorar, mas outros já estão estreando.  É bom isso?  Se você olhar para o copo meio vazio, dirá que a Mostra tem muitas pré-estreias, quando o que muitos buscam são as filmografias mais distantes, menos conhecidas, ou os filmes que só se podem ver na Mostra, que não estarão disponíveis logo mais.  No entanto, se você olhar o copo meio cheio, verá que o circuito comercial é hoje muito mais sensível do que no passado aos grandes diretores e aos filmes que se destacam nos festivais pelo mundo.  O que nos permite usufruir da qualidade dos filmes da Mostra, ao longo de todo o ano.  Registre-se que esse é também um mérito da própria Mostra que, no passado, era praticamente a única janela para diversificar e arejar a exibição nos cinemas.  Depois disso, que remonta ao período de grande censura na ditadura militar, muita coisa mudou. 


A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS

Conquistamos a liberdade e a democracia, que espero permaneçam no nosso horizonte, com força para rechaçar qualquer ameaça que se apresente.  Temos hoje na cidade de São Paulo uma riqueza cultural muito grande, mostras de cinema variadas, que se apresentam uma após a outra, durante todo o ano, além das salas que exibem o cinema de qualidade, que foi um dia quase exclusividade da Mostra.  O nosso ambiente cinematográfico se enriqueceu, arejou.  Se alcançam sucesso expressivo de público ou se os filmes permanecem em cartaz pelo tempo necessário para serem reconhecidos, recomendados e apreciados, é uma outra questão.  Afinal, o gosto médio sempre foi, e sempre será, medíocre.  E o tilintar da bilheteria (ainda existe isso?) não é um bom conselheiro, culturalmente falando.

O que a 42ª. Mostra também trouxe de muito relevante foi o papel das mulheres no cinema.  Além de muitos filmes realizados pelo gênero feminino, a temática das mulheres teve presença marcante nas narrativas de filmes realizados por homens.  Com sentido libertário e reconhecendo a força das mulheres em todos os campos.  O feminismo nunca esteve tão em evidência, sendo percebido como uma luta prioritária em todo o mundo.  Em algumas regiões do globo, ainda na fase da denúncia dos preconceitos, da falta de lugar e de espaço na vida pública, onde fundamentalismos ainda conseguem dar o tom, por conta de raízes culturais, patriarcais e religiosas.  Ao que parece, no entanto, avança-se em todos os lugares.

As questões que perpassam os gêneros, reconhecendo-os como construções culturais, também ganham progressivamente mais e mais espaço.  Os transgêneros são personagens relevantes em muitas tramas.  A diversidade se expressa, o racismo é mostrado e combatido.  Isso tudo num mundo em que a violência e a opressão se fazem muito presentes.  E de forma ruidosa, com o avanço da extrema direita, dos neonazistas, do drama humano pungente dos imigrantes.  Aqui, mais uma vez, é possível olhar para o copo, vendo-o meio vazio ou meio cheio.

Bem, pelo menos o cinema como espaço de reflexão, realizado com talento no mundo todo, é um maravilhoso refresco para os dias conturbados em que vivemos.  E a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo sempre deu uma forte contribuição para isso, sem sombra de dúvida.

Minha lista de favoritos, ou os 10 filmes que mais apreciei, exibidos na 42ª. Mostra, em ordem de preferência:

A ÁRVORE DOS FRUTOS SELVAGENS, de Nuri Bilge Ceylan, Turquia.
ASSUNTO DE FAMÍLIA, de Hirokazu Kore-Eda, Japão.
CULPA, de Gustav Möller, Dinamarca.
ROMA, de Alfonso Cuarón, México.
EM CHAMAS, de Chang-dong Lee, Coreia do Sul.
NUESTRO TIEMPO, de Carlos Reygadas, México.
INFILTRADO NA KLAN, de Spike Lee, Estados Unidos.
GUERRA FRIA, de Pawel Pawlikowski, Polônia.
UMA MULHER EM GUERRA, de Benedikt Erlingsson, Islândia.
ERA UMA VEZ EM NOVEMBRO, de Andrzej Jakimowski, Polônia.





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