segunda-feira, 3 de setembro de 2018

DROPES CINEMATORÁFICOS


Antonio Carlos Egypto



      O documentário brasileiro de 2018, de Sílvio Da-Rin, MISSÃO 115, resgata uma ação terrorista promovida pelo próprio Estado, na ditadura militar: o atentado do Rio – Centro, em 1º. de maio de 1981.  Um show musical teria se tornado uma tragédia que, ainda por cima, seria atribuída a grupos de esquerda.  Só que a bomba explodiu no colo dos militares que tentavam impedir a abertura democrática, com ações como essa.  Missão 115 é o nome atribuído à suposta “operação de vigilância” pelo DOI-CODI, o órgão de repressão do Exército, na época.  O documentário incorpora informações recentes colhidas pela Comissão Nacional da Verdade.  Indispensável, especialmente para que os mais jovens possam entender e avaliar melhor aquele período terrível da história brasileira recente.  87 min.



Yonlu


·         Yonlu (Vinícius), adolescente gaúcho de nível econômico familiar alto e de formação cultural sofisticada, viveu parte da infância em Paris.  Em Porto Alegre, desenvolveu um talento musical, tocando instrumentos, compondo canções em inglês, gravando, registrando e salvando tudo em seus equipamentos.  Deixou para a prosperidade uma obra musical relevante, além de desenhos e registros escritos de sua vida, que se encerrou, muito precocemente, aos 16 anos de idade, por suicídio.  Jovem solitário, vivia num mundo virtual, em que encontrou um grupo de estímulo ao suicídio, de que se valeu em sua decisão planejada, estudando meios e métodos para isso, até chegar ao final trágico, em 2006.  YONLU, o filme brasileiro de Hique Montanari, de 2017, conta essa história de forma poética, a partir do próprio e amplo material deixado por Yonlu, que possibilitou o uso tanto de música quanto de animação, utilizando também recursos visuais opacos e depressores, para mostrar o aspecto sombrio dessa vida e de seus relacionamentos virtuais.  É um belo trabalho, que mostra sem julgar.  O papel do psicoterapeuta serve para tentar entender o que se passava com o adolescente e as circunstâncias que poderiam explicar o suicídio.  O desempenho do jovem gaúcho Thalles Cabral, também músico, no papel de Yonlu, é um achado.  90 min.


·         Na França profunda, que se identifica com o radicalismo da extrema direita, a homossexualidade não tem cabida, nem nenhuma compreensão.  Isso produz um ambiente não só preconceituoso, mas hostil, agressivo, para um menino que tenha traços ou atitudes classificadas como femininas, por exemplo.  Um mundo fechado e grosseiro, que produz sofrimento e bloqueia a expressão humana.  É preciso que alguém, um educador com alguma sensibilidade, ajude o “diferente” a se reinventar.  A partir da própria identidade.  Só por aí pode haver saída.  MARVIN, da diretora Anne Fontaine, de 2017, nos coloca em cheio na vida do menino hostilizado e do jovem que se reinventa, transformando em arte seu sofrimento, alternando e integrando esses movimentos – e sentimentos.  Essa é uma forma muito apropriada de combater a homofobia, aproximar para produzir a empatia do espectador com o personagem.  MARVIN é muito eficiente nisso, um filme sensível e bem construído.  Com Finnegan Oldfield, Grégory  Gadebois, Vincente Macaigne, Catherine Salée.  Participação especial de Isabelle Huppert.  115 min.



Você nunca esteve realmente aqui


·         VOCÊ NUNCA ESTEVE REALMENTE AQUI (You Were Never Really Here), de 2018, é um filme da diretora escocesa Lynne Ramsay, do ótimo “Precisamos Falar Sobre o Kevin”, de 2011.  O que já é uma recomendação impecável.  Ela sabe filmar muito bem, seus movimentos de câmera, enquadramentos, ângulos, detalhes, imagens cortadas e truncadas, criam um clima de suspense e mistério absolutos.  O filme se faz só de indícios, nunca é possível saber o que de fato está acontecendo, nem os personagens sabem.  Isso torna a experiência estranha e fragmentada, para o espectador.  Vai incomodar, mas é bom cinema.  Joaquin Phoenix brilha como protagonista do filme.  89 min.


·         O BANQUETE, novo filme de Daniela Thomas, é, segundo ela própria, uma tragicomédia de costumes.  Em torno da mesa, uma comemoração de casamento reúne poucas pessoas, mas lá estão amigos, inimigos, ex-parceiros, e um relacionamento corrosivo se impõe.  Num ambiente sofisticado de gente do mundo artístico e da área de comunicações, eivado de erotismo, assédio e sedução, os jogos de poder se estabelecem.  Até aí, muito bem.  Ocorre que algumas das figuras mostradas se inspiram, tanto fisicamente quanto em comportamentos e situações, em pessoas públicas muito conhecidas.  E aí fica a questão: houve a intenção de identificá-las?  Por quê?  Essa fulanização e a menção explícita ao então presidente Collor enfraquecem um pouco a ideia do filme.  Particularizam um contexto, quando seria melhor generalizá-lo.  Produção brasileira de 2018.  Com Drica Moraes, Mariana Lima, Bruna Linzmeyer, Caco Ciocler, Clay Suede, Rodrigo Bolzan.  104 min.



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