segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

O INSULTO

   
Antonio Carlos Egypto





O INSULTO (L’Insulte).  Líbano, 2017.  Direção: Ziad Doueiri.  Com Adel Karam, Rita Hayek, Kamel El Basha.  112 min.


O filme libanês O Insulto” é um dos cinco finalistas na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro.  É a primeira produção do Líbano que chega a tanto.  Compete com “Sem Amor”, “The Square – A Arte da Discórdia”, “Corpo e Alma”, “Uma Mulher Fantástica”.  É uma proeza estar entre esses títulos de peso.  Não que ao tema com que lida falte apelo.  Ao contrário, é assunto de todos os dias no noticiário internacional.

 Uma divergência absolutamente banal, uma calha que verte água por onde não podia, molhando as pessoas, opõe dois homens.  Um, é o mecânico cristão-libanês Tony (Adel Karam).  O outro, é o refugiado palestino Yasser (Kamel El Basha).  Um desentendimento, um insulto, e tudo vai parar nos tribunais.  A partir daí, o conflito não só se estabelece como vai progressivamente se ampliando, para acabar abarcando toda a questão judaico-palestina que envolve o Oriente Médio.

Tema espinhoso, sem solução, tratado com uma certa ingenuiade política.  Vamos descobrindo, ao longo das discussões que o filme mostra, que, afinal, os dois contendores em conflito, sofreram ambos violências atrozes.  São, portanto, vítimas.  O que abre espaço para o discurso da conciliação, como se nessa história toda as coisas simplesmente se equiparassem.

O que falta é o quê?  Boa vontade, disposição política?  Não é tão fácil assim.  Há questões históricas complexas aí envolvidas, fanatismos de todos os tipos: políticos, religiosos, culturais, étnicos.  Boas intenções não bastam.  Aliás, o próprio filme apresenta esses impasses quando mostra as reações dos grupos envolvidos e representados nas ações dos tribunais, suas repercussões midiáticas e tudo o mais.

As pessoas, individualmente, podem se pacificar, tornarem-se tolerantes, praticar a empatia.  Ainda assim, o impasse coletivo continuará lá.  O social e o político não são a soma das ações individuais.  Assumem outra dimensão que tem de ser encarada e a verdade é que ninguém mais sabe encontrar o tal caminho da conciliação, nem mesmo sabe se, neste caso, ele ainda existe.


“O Insulto” é bem produzido, mas é um filme absolutamente convencional.  Já alcançou uma evidência e um sucesso de público pelo mundo surpreendentes, pelo que oferece.



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