Antonio Carlos
Egypto
NERUDA (Neruda). Chile, 2016.
Direção: Pablo Larrain. Com Luís
Gnecco, Gael García Bernal, Alfredo Castro, Mercedes Morán. 107 min.
O poeta Pablo Neruda (1904-1973), prêmio Nobel de
Literatura, é uma das maiores referências culturais do Chile, em todos os
tempos. O poeta do amor também teve
forte participação política, foi senador da República, vinculado ao Partido
Comunista. E nessa condição chegou a
apoiar a eleição de Gabriel González Videla (1898-1980). Mas Videla se tornaria, depois, um forte
perseguidor dos comunistas. Em 1948,
promoveu uma verdadeira caça, conhecida como “A Lei Maldita”, a versão chilena
do macartismo nos Estados Unidos, na mesma época. A força da União Soviética, após a vitória na
Segunda Guerra Mundial, incomodava muito e era preciso combatê-la. A Guerra Fria vigorava. Segundo um diálogo do filme “Neruda”, de Pablo
Larrain, o presidente do Chile tem um chefe: é o presidente dos Estados Unidos. Logo, é natural que siga as ordens da matriz.
Bem, o fato é que Pablo Neruda, na condição de senador, atacou o presidente
González Videla e denunciou tudo o que estava acontecendo com centenas de
presos e perseguidos. Claro que se
tornou um deles, teve que se esconder e brincar de gato-e-rato com a polícia,
que estava em seu encalço.
A história dessa perseguição é o assunto do filme
“Neruda”, protagonizado por Luís Gnecco, no papel do poeta, e pelo ator
mexicano Gael García Bernal, no papel do policial Oscar Peluchoneau, filho de
um grande agente que havia marcado história na polícia.
Curiosamente, o personagem secundário do policial é
quem narra a história, é do seu ponto de vista que vamos conhecendo o que se
passou. Inclusive, com direito a falas
em off, que narram, explicam o que se
passa na tela, na visão dele. Recurso
que incomoda e é desnecessário. No
entanto, é interessante o enfoque do filme, produz uma história de suspense ao
estilo noir, que é capaz de
interessar uma plateia menos politizada.
A caçada é emocionante, tem lances curiosos,
surpresas, e é uma produção ficcional com base na realidade histórica. O policial Oscar é uma criação do escritor,
existe só em função de Neruda, só relacionado a ele, não dispõe de realidade
própria. E é o centro da narrativa do
filme, contando com um ator global que puxa plateias, como Gael García Bernal.
Essa mesma história já havia sido filmada no Chile,
em caráter ficcional, há cerca de dois ou três anos. O filme “Neruda Fugitivo”, de Manuel Basoalto,
que é parente de Neruda, é bem inferior ao trabalho atual de Larrain, que vai
mais fundo, questiona e inova sua narrativa, sem medo de tirar o poeta do
pedestal em que se encontra.
Pablo Neruda cresceria de importância internacional,
depois desse episódio narrado nesses filmes e só morreria em 1973, doze dias
depois de instaurado o golpe militar que levou Augusto Pinochet ao poder e que
produziu uma das ditaduras mais sanguinárias do continente. Oficialmente, Neruda morreu em decorrência de
câncer de próstata, mas um calmante que lhe foi injetado teria produzido a
parada cardíaca que o matou. Há quem não
só questione como ainda esteja investigando a hipótese de assassinato,
perfeitamente plausível naquele momento político. Mas essa já é uma história posterior, que não
está no filme. Talvez no futuro, em um
novo filme, novas revelações possam aparecer.
O diretor Pablo Larrain já nos deu “No”, de 2012,
sobre o plebiscito que tirou Pinochet do poder, analisando aquele
peculiaríssimo processo eleitoral com maestria.
Brilhou ainda mais com “O Clube”, de 2015, que trata com muita clareza
da pedofilia dentro do clero da igreja católica. Mostra-se um cineasta que mergulha na história
chilena, fazendo um cinema político importante e crítico, com posição, mas sem
qualquer dose de panfletarismo. “Neruda”
concorre ao Oscar 2017 de filme estrangeiro, pelo Chile.
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