sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

BLOW-UP

  
Antonio Carlos Egypto





BLOW-UP (Blow-Up).  Inglaterra/Itália, 1966.  Direção e roteiro: Michelangelo Antonioni.  Com David Hemmings, Sarah Miles, Vanessa Redgrave, Veruska.  111 min.



Para quem gosta de cinema, não há nada melhor do que rever grandes filmes, experiências marcantes, históricas, na telona.  E isso vem acontecendo.  Periodicamente, têm sido relançados no cinema alguns dos mais marcantes e significativos filmes de sua história.  Inúmeras vezes já deixei o DVD em casa e fui ao cinema, para ver um filme que eu teria à mão a qualquer hora.  E não me arrependi.




Minha sugestão hoje é ir ver “Blow-Up”, do mestre italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007), filme em inglês, já que trata da Swinging London dos anos 1960.  O personagem central é Thomas (David Hemmings), fotógrafo de moda naquele fervilhante período britânico, que se envolve acidentalmente com o que pode ser um assassinato, revelado pelas lentes de sua câmera.  Lá estará a verdade.  Ou não?  A cada ampliação da revelação das fotos, uma nova imagem e uma nova dúvida.  Onde está a verdade?  Mesmo a verdade revelada pela câmera, será que ela existe?  É alcançável pelos recursos tecnológicos, no caso, aqui, da fotografia? 

Será preciso ver para crer?  Ou melhor será crer para ver?  Nesse sentido, o final do filme é genial, uma das melhores sequências cinematográficas já feitas.  Se alguém ainda não viu, ou não se lembra, vale a pena conferir.




“Blow-Up” é um filme absolutamente brilhante que, a par de mexer com a insegurança, o medo, a paranoia, a desorientação humanas, revela, como poucos o fizeram, todo o clima efervescente dos anos 1960, com sua transgressão, seu psicodelismo, seu amor livre, suas festas e drogas.  Que nos legou, por exemplo, a música dos Beatles, a revolução sexual, a emancipação feminina, a visibilidade dos gays, as intensas manifestações de rua, o espírito crítico, a luta por mudanças.  Tudo isso tem muito a ver com o sentido inovador e profundamente questionador da arte de Antonioni.

A ele foi atribuído um especial interesse em revelar e desvendar a incomunicabilidade humana em seu filmes, mas ele vai muito além disso.  Antonioni inova na narrativa, no jeito de contar uma história, quando é o caso, ou de vivenciar uma situação, um personagem, um grupo de personagens, uma coletividade que se expressa, um sistema econômico e social que aprisiona ou oprime.  E tem um estilo maravilhoso de narrar tempos mortos, momentos em que nada acontece ou acontece na mente, nos movimentos e sentimentos dos personagens.




Em “Blow-Up”, aqui lançado com o estúpido subtítulo de “Depois daquele beijo”, Antonioni baseia seu roteiro, feito em parceria com Tonino Guerra e Edward Bond, em um conto do escritor argentino Julio Cortázar.  Revê-lo restaurado, e na tela grande, é um luxo que todos merecem, 50 anos passados de seu lançamento original, quando foi o grande vencedor do Festival de Cannes de 1967.

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Se “Blow-Up” é um velho notável filme que volta ao cartaz, “Belos Sonhos”, de Marco Bellocchio, é um produto novo em folha, muito talentoso, que está sendo lançado agora.  Veja a crítica postada no cinema com recheio, por ocasião da 40ª. Mostra.


  

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