Antonio
Carlos Egypto
BLOW-UP (Blow-Up). Inglaterra/Itália, 1966. Direção e roteiro: Michelangelo Antonioni. Com David Hemmings, Sarah Miles, Vanessa
Redgrave, Veruska. 111 min.
Para quem gosta de cinema, não há nada melhor do que
rever grandes filmes, experiências marcantes, históricas, na telona. E isso vem acontecendo. Periodicamente, têm sido relançados no cinema
alguns dos mais marcantes e significativos filmes de sua história. Inúmeras vezes já deixei o DVD em casa e fui
ao cinema, para ver um filme que eu teria à mão a qualquer hora. E não me arrependi.
Minha sugestão hoje é ir ver “Blow-Up”, do mestre
italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007), filme em inglês, já que trata da Swinging London dos anos 1960. O personagem central é Thomas (David
Hemmings), fotógrafo de moda naquele fervilhante período britânico, que se
envolve acidentalmente com o que pode ser um assassinato, revelado pelas lentes
de sua câmera. Lá estará a verdade. Ou não?
A cada ampliação da revelação das fotos, uma nova imagem e uma nova
dúvida. Onde está a verdade? Mesmo a verdade revelada pela câmera, será
que ela existe? É alcançável pelos recursos
tecnológicos, no caso, aqui, da fotografia?
Será preciso ver para crer? Ou melhor será crer para ver? Nesse sentido, o final do filme é genial, uma
das melhores sequências cinematográficas já feitas. Se alguém ainda não viu, ou não se lembra,
vale a pena conferir.
“Blow-Up” é um filme absolutamente brilhante que, a
par de mexer com a insegurança, o medo, a paranoia, a desorientação humanas, revela,
como poucos o fizeram, todo o clima efervescente dos anos 1960, com sua
transgressão, seu psicodelismo, seu amor livre, suas festas e drogas. Que nos legou, por exemplo, a música dos
Beatles, a revolução sexual, a emancipação feminina, a visibilidade dos gays, as intensas manifestações de rua,
o espírito crítico, a luta por mudanças.
Tudo isso tem muito a ver com o sentido inovador e profundamente
questionador da arte de Antonioni.
A ele foi atribuído um especial interesse em revelar
e desvendar a incomunicabilidade humana em seu filmes, mas ele vai muito além
disso. Antonioni inova na narrativa, no
jeito de contar uma história, quando é o caso, ou de vivenciar uma situação, um
personagem, um grupo de personagens, uma coletividade que se expressa, um
sistema econômico e social que aprisiona ou oprime. E tem um estilo maravilhoso de narrar tempos
mortos, momentos em que nada acontece ou acontece na mente, nos movimentos e
sentimentos dos personagens.
Em “Blow-Up”, aqui lançado com o estúpido subtítulo
de “Depois daquele beijo”, Antonioni baseia seu roteiro, feito em parceria com
Tonino Guerra e Edward Bond, em um conto do escritor argentino Julio
Cortázar. Revê-lo restaurado, e na tela
grande, é um luxo que todos merecem, 50 anos passados de seu lançamento
original, quando foi o grande vencedor do Festival de Cannes de 1967.
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Se “Blow-Up” é um velho notável filme que volta ao
cartaz, “Belos Sonhos”, de Marco Bellocchio, é um produto novo em folha, muito
talentoso, que está sendo lançado agora.
Veja a crítica postada no cinema com recheio, por ocasião da 40ª.
Mostra.
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