Antonio Carlos
Egypto
Vou comentar aqui mais alguns filmes que estão sendo exibidos na 40ª.
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
NUNCA VAS A ESTAR SOLO, o filme chileno de Alex Anwandter, aborda a
questão da homofobia, não só pelo lado da dor, dos sentimentos e das relações
familiares, mas também pelo lado pragmático, o do custo dos atendimentos
hospitalares e dos planos de saúde, a questão da legislação e da atuação
policial. Ou seja, dos óbices à garantia
de direitos e suas consequências. Boa
realização.
SEM DEUS, filme da Bulgária, dirigido por Ralitza Petrova, trabalha com a
personagem Gana, cuidadora de idosos.
Mas, ao mesmo tempo, ela é dada a ilegalidades, falcatruas, maldades, e
tudo parece ficar por isso mesmo. Algo
vai mudar, mas nada fica muito claro e o filme navega em emoções opacas e falta
de ritmo.
EL OLIVO |
O espanhol EL OLIVO, da diretora Iciar Bollain, se utiliza de uma
narrativa clássica para contar uma boa história, que une uma oliveira de 2000
anos, um avô, uma neta e uma empresa que adotará a árvore como logotipo, de uma
hipócrita sustentabilidade. A jovem Alma
é uma personagem forte, marcante. Vale o filme. Que tem, ainda, lindas
paisagens de olivais.
EXERCÍCIOS DE MEMÓRIA, do Paraguai, é um documentário que conta uma
história trágica com imagens plácidas. O desaparecido político Agustín Boigurú,
médico e maior adversário político do ditador Alfredo Stroessner, é lembrado
por seus 3 filhos, crianças na época do desaparecimento. Imagens de uma casa abandonada ás
pressas, rio e floresta, além de fotos antigas muito bem trabalhadas
visualmente, ilustram o que se verbaliza.
Dirigido pela cineasta que fez HAMACA PARAGUAYA, Paz Encina.
INTERRUPÇÃO |
O filme grego INTERRUPÇÃO, um tanto intelectualizado, vai para um terreno
experimental. Como se pode interagir com os mitos e alterar o rumo das decisões
para o nossa realidade? Como o teatro pode incorporar a plateia na encenação e
nas decisões? Se ela entra na peça o que é real e o que não? Qual é o papel do
coro e o que ele representa hoje? O mito de Orestes, que matou a própria mãe, é
o mote da encenação. Uma ambivalência constante toma conta da narrativa.
Primeiro longa de Yorgos Zois. Se fosse um pouco menos pretensioso poderia funcionar
melhor.
A GAROTA DESCONHECIDA, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, mais uma
vez põe em evidência um dilema moral. Desta vez o de uma médica que não atende
a campainha após o expediente e fica sabendo que a pessoa que procurou o
consultório morreu. A partir daí o filme vai pouco a pouco moldando as ações
movidas pela culpa. É um belo trabalho, mas tem problemas com a verossimilhança
e com a solução do caso, que acontece em desacordo com o clima do filme.
A GAROTA DESCONHECIDA |
Quem puder ver ou rever O QUARTO HOMEM, de Paul Verhoeven, produzido na
Holanda em 1983, vai constatar que o filme continua ótimo e atual. Só que hoje
não escandaliza tanto quanto na época de seu lançamento. Está sendo apresentado
em película, o que atualmente também é raro.
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