Antonio Carlos
Egypto
ANIMAIS NOTURNOS (Nocturnal
Animals). Estados Unidos, 2016. Direção e roteiro: Tom Ford. Com Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon, Aaron Taylor-Johnson,
Isla Fisher. 115 min.
O filme “Animais Noturnos” focaliza a personagem
Susan (Amy Adams), sua galeria de arte e seu marido, com quem visivelmente ela
mantém um relacionamento distante e conturbado.
Pouco afeto e pouco interesse em investir na relação parecem existir
ali. Ela tenta algo, mas não encontra
ressonância nele que, uma vez mais, parte para uma viagem.
Enquanto isso, Susan recebe de seu ex-marido Edward
(Jake Gyllenhaal) os originais de um romance chamado Animais Noturnos, dedicado a ela. Ele costumava chamá-la assim. O
romance será lido por ela e visto pelos espectadores em partes,
progressivamente, como um livro é lido.
O texto que
Susan lê vai se tornando incômodo, por muitas razões. Primeiro, porque se revelará um thriller violento, que se agrava aos
poucos. Segundo, porque parece uma
confissão em primeira pessoa que desmerece o narrador. Terceiro, porque parece se constituir numa
vingança em relação a ela. E vai
evoluindo para uma atmosfera aterradora.
Por um lado, ela vai sendo atraída pelo livro, por
outro, o contesta e rechaça. Interrompe
a leitura, mas sempre voltará a ela. Nos
intervalos da leitura, acompanhamos o que ela faz e o encontro que se dará com
o próprio autor da obra, seu ex-marido. Eles
se relacionam em meio à fruição da obra literária, que mexe tanto com ela e
parece ter sido feita para contar algo importante, que pode mudar muita
coisa. Com que função? Para alcançar o quê, a essa altura, depois de
muitos anos de distanciamento?
A narrativa de “Animais Noturnos” inova num jogo de
ficção e realidade, presente e passado, passado que volta a ser presente,
lembranças incômodas e fantasia e, afinal, amor e ódio. Desta forma, se constrói como um thriller forte e empolgante, cheio de
subentendidos, mistérios e motivações simbólicas.
Os personagens soam autênticos, mostram as fraquezas
humanas, a busca por modificar a percepção do outro, escancaram frustrações e
todo tipo de fragilidade, incluindo as doenças do corpo.
O elenco que dá vida a esses personagens complexos e
realistas é muito bom e nos apresenta desempenhos muito convincentes. O principal destaque é, naturalmente, Amy
Adams, já que é Susan que conduz a trama.
Ao mesmo tempo, a narrativa “ficcional” do romance é que dá o tom do
espetáculo e aí o grande condutor é Jake Gyllenhaal, o escritor e personagem do
livro.
Tom Ford, o diretor e também renomado estilista,
reafirma o seu talento neste seu segundo filme.
O primeiro, “Direito de Amar”, de 2011, já havia se constituído numa
bela surpresa na apresentação de conflitos e relacionamentos amorosos que podem
produzir tragédias. Em “Animais
Noturnos”, ele mantém essa linha, trabalhando no gênero suspense de forma bem
envolvente.
O filme integra a programação da 40ª. Mostra
Internacional de Cinema de São Paulo, como um de seus destaques. Chegará mais tarde ao circuito comercial dos
cinemas.
Impecável este filme! Animais Noturnos pode ser visto como uma grande alegoria dentro da mente da personagem de Amy Adams. Assim, não importam as qualidades literárias ou as verdadeiras intenções do livro escrito por seu ex, mas sim as reações que suas interpretações causam em Susan. Se ela está mesmo certa nas correspondências que faz, é algo que nunca terá resposta, como a dura cena final deixa claro. Definitivamente, Tom Ford não está apenas brincando de ser cineasta. Em Animais Noturnos, seu segundo longa, o famoso estilista coloca seu apuro visual à serviço de uma história ainda mais complexa do que a estreia (Direito de Amar, que rendeu uma indicação ao Oscar para o protagonista Colin Firth), e constrói uma obra repleta de simbolismos e aberta às mais diferentes interpretações.
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