Antonio Carlos
Egypto
OS CAMPOS VOLTARÃO (Torneranno i Prati). Itália,
2014. Direção e roteiro: Ermanno
Olmi. Com Claudio Santamaria, Alessandro
Sperduti, Francesco Formichetti, Andrea di Maria. 80 min.
Como lembrar as sangrentas batalhas que marcaram a Primeira
Guerra Mundial, agora que se rememora o centenário daquela carnificina? Para o veterano diretor italiano Ermanno Olmi
não foi difícil. Seu pai lutou na Primeira
Guerra e lhe contava muitas histórias que viveu no front. Essas histórias
deixaram marcas na juventude de Olmi e solidificaram nele um espírito
humanista, antibélico.
A melhor forma de abordar o absurdo dessa guerra no
cinema, para um diretor cunhado pela tradição neorrealista, era, naturalmente,
recorrer a essas narrativas paternas, trazendo o cotidiano infernal do front de batalha em situações diversas,
concentradas num único set e num
único dia. Valeu-se o tempo todo dessas
histórias reais, vividas ou presenciadas, narradas pelo pai.
Estamos em 1917, acompanhando um grupo de soldados
italianos no front de batalha, em
Altipiano, nordeste da Itália. Eles estão em um bunker, cercados por nevascas e pelo exército austríaco, que
procura dominá-los. Mas, no início do
filme, há espaço para apreciar a beleza dos campos cobertos de neve e até a
beleza do canto de um dos soldados italianos que, com sua música, chega até os
contendores da guerra, que o aplaudem e pedem mais.
O decorrer da experiência trará imagens, situações e
sentimentos muito menos edificantes: o medo, a saudade da família, a fome, o
convívio com os ratos, as doenças, os bombardeios, exibidos com minucioso
realismo e despojamento, em longos planos-sequência não deixam margem a dúvida
sobre a insensatez das guerras. E o
caráter infra-humano, anti-humano, que é sua marca registrada.
Em econômicos 80 minutos, o filme diz tudo o que tem
a dizer, sem pregar absolutamente nada.
É pura observação, informação visual, reflexão sobre as pequenas ações e
comportamentos de vida na guerra. Para
isso, se vale de uma fotografia deslumbrante e de um cenário que cria um
ambiente claustrofóbico e opressivo, sem que haja dominadores ou
opressores. É a própria guerra que os
oprime.
Um filme espetacular, de inegável beleza artística. Eu diria que é a terceira obra-prima desse
diretor, de quem se conhece pouca coisa, mas o que aqui chegou é
primoroso. “A Árvore dos Tamancos”, de
1978, ganhou a Palma de Ouro em Cannes, com todos os méritos. “A Lenda do Santo Beberrão”, de 1988, levou o
Leão de Ouro em Veneza e é outra maravilha.
Com “Os Campos Voltarão”, Ermanno Olmi apenas reforça e reafirma essa
capacidade de produzir coisas deslumbrantes sem qualquer afetação ou
ornamentação.
Para quem nasceu em 1931 e começou a dirigir desde o
final dos anos 1950, Olmi até que fez pouco cinema, mas sua contribuição para
ele é admirável e não poderá ser esquecida.
E que fôlego teve para realizar esse filme tão sofisticado na sua
simplicidade, aos 83 anos de idade.
Muito bonito.
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