Antonio
Carlos Egypto
SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS (Spotlight). Estados Unidos,
2015. Direção: Tom McCarthy. Com
Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Liev Schreiber. 129 min.
Jornalismo investigativo sério é uma das mais
importantes armas de sustentação de uma democracia. Exige fidelidade leonina aos fatos, meses de
pesquisa indo atrás de indícios que possam resultar em denúncia relevante, e
liberdade para os profissionais designados para a investigação. Independência, portanto, também dos esquemas
e interesses econômicos da publicação.
Se ela estiver direcionada para o leitor e for capaz de contrariar
alguns interesses imediatos, isso é teoricamente possível, como parece ter sido
o caso relatado no filme “Spotlight – Segredos Revelados”.
Na prática, isso é tão raro nos dias de hoje que soa
como uma utopia. Fundamental e
necessária, mas utopia. No caso da
imprensa escrita, mais difícil ainda: os grandes jornais e revistas estão
perdendo a relevância, os leitores e seus profissionais mais competentes,
enxugando e desaparecendo.
É, sem dúvida, bonito o trabalho jornalístico do Boston Globe e sua equipe investigativa,
que levou à denúncia bombástica da pedofilia dos padres, do abuso sexual contra
crianças, permanente e recorrente, encoberto pela Igreja Católica durante
muitos anos. Veio, então, a denúncia, nos
Estados Unidos, na Irlanda e em muitas outras partes do mundo. Revelou-se que o problema era, e é ainda,
sistêmico. Reflete um funcionamento
antinatural da estrutura da vida religiosa, baseada no celibato. Mas como sempre acontece a impunidade garante
a continuidade dos crimes, suas graves consequências para as pessoas atingidas
e suas famílias, geralmente recrutadas onde as maiores carências se
manifestam. E o interesse de manter as
coisas como estão, em termos de estrutura religiosa, e econômica, faz com que
nada mude até que algo se rompa.
Foram décadas de existência dessas questões,
conhecidas da cúpula da Igreja, e de tanta gente importante ao redor do mundo,
sem que nada de significativo tivesse sido feito. Trocam-se os clérigos e seus superiores
coniventes de lugar, pressionam-se os governos e a justiça para engavetar denúncias
e joga-se a sujeira para baixo do tapete. Agora, não mais, algo mudou. Tanto
que vários filmes estão tratando do assunto. O melhor deles, o chileno “O
Clube”, tem crítica publicada aqui, no cinema com recheio.
No caso de “Spotlight”, trata-se de um bom filme,
didático, com ótimo desempenho do elenco.
A narrativa segue o estilo convencional, muito carregada de diálogos o
tempo todo, mas o resultado final convence.
É competente no seu conjunto e a história relatada é importante de ser
resgatada. Embora falte uma referência
mais clara ao que já se conhecia sobre o assunto ao redor do mundo, quando os
fatos estavam sendo investigados em Boston.
“Spotlight – Segredos Revelados” concorre ao Oscar
2016, nas principais categorias do prêmio: filme, diretor, roteiro, montagem,
ator e atriz coadjuvantes.
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