Antonio
Carlos Egypto
DIPLOMACIA (Diplomatie). Alemanha, França, 2014. Direção: Volker Schlöndorff. Com André Dussolier, Niels Arestrup, Robert Stadlober, Charlie Nelson,
Jean-Marc Roulot. 88 min.
O novo filme do grande diretor alemão Volker
Schlöndorff, chamado “Diplomacia”, é baseado na peça teatral do mesmo nome de
Cyril Gely, que fez o roteiro do filme, em parceria com o diretor.
O assunto é o mesmo do filme de René Clément, “Paris
Está em Chamas?”, lançado em DVD há pouco tempo. Esse filme é de 1966, mas só o
vi recentemente. É curioso ver o tema da
explosão de Paris por Hitler retomado neste “Diplomacia”, de 2014, que chega
agora aos cinemas.
Segunda Guerra Mundial. 25 de agosto de 1944. Na Paris ocupada pelos alemães, a entrada dos
Aliados para a retomada da cidade é iminente, assim como o fim da guerra, que
está próximo. Ela está perdida para o
Eixo, capitaneado pela Alemanha. O
general Dietrich von Choltitz (Niels Arestrup), que coordena as forças de
ocupação alemãs em Paris, é fiel ao Terceiro Reich e recebe ordem expressa,
vinda de Hitler, para explodir a capital da França, incluindo suas pontes,
monumentos e museus. A ideia era
oferecer aos vencedores terra arrasada.
Sabemos o final da história, mas o filme de Schlöndorff constrói um belo
suspense com isso. O que fará o
general? Está tudo pronto para explodir,
fartamente carregado de dinamite, falta só a ordem para a explosão. Ela virá?
O que acabará determinando tal decisão é o
relacionamento do general com o cônsul-geral da Suécia em Paris, Raoul Nordling
(André Dussolier). Do embate intelectual
entre ambos far-se-á a luz.
O filme se centra na relação dos dois personagens,
como se ela estivesse ocorrendo toda na noite fatídica da decisão. As cenas originais de rua servem apenas de
elemento ilustrativo. É do confronto dos
dois que se alimenta todo o filme. Em
econômicos 88 minutos, acompanhamos toda a evolução da conversa que colocava em
jogo um dos maiores patrimônios culturais da humanidade e vidas humanas em
profusão. Os dois protagonistas, atores
brilhantes, que já haviam vivido os mesmos papéis no teatro, em 2011, carregam
magistralmente a trama.
André Dussolier, que faz o cônsul-sueco, é um dos
atores que mais atuaram com Alain Resnais, que o tinha como um de seus
prediletos. Mas trabalhou também com
François Truffaut, Claude Chabrol, Claude Lelouch, Erich Rohmer, Coline
Serreau, Bertrand Blier e muitos outros. Niels Arestrup, o general, trabalhou
com Chantal Akerman, Claude Lelouch, Marco Ferreri, István Szabó, Jacques
Audiard, Steven Spielberg, Bernard Tavernier e, também, Alain Resnais. Outra bela trajetória. Com atores assim, o
resultado é eletrizante. Mesmo tudo se
passando basicamente entre as paredes da sala de trabalho do oficial nazista.
Em comparação com a superprodução francesa “Paris
Está em Chamas?”, que reuniu um dos maiores elencos e participações especiais
às pencas, a economia de recursos e de tempo de “Diplomacia” é incrível. René Clément contou com roteiro de Gore Vidal
e Francis Ford Coppola. Teve no elenco
Jean-Paul Belmondo, Charles Boyer, Alain Delon, Kirk Douglas, Glenn Ford, Yves
Montand, Anthony Perkins, Michel Piccoli e até Orson Welles, no papel do cônsul
sueco. Precisou de 165 minutos para registrar o mesmo fato. Mas escolheu outro caminho: o do minucioso
detalhamento das batalhas de rua na Paris em que a Resistência tentava
reconquistar pontos estratégicos, à espera do embarque aliado. Interessante do ponto de vista histórico, com
base nos fatos e resgate de imagens originais em grande quantidade, mas longo e
cansativo. “Diplomacia”, ao contrário,
foca no embate razão e emoção, no seguir ordens absurdas sem questioná-las, ou
do medo de enfrentá-las ou, ainda, da coragem de fazê-lo, dos riscos a correr,
da capacidade de avaliar a monstruosidade que estava em jogo.
Volker Schlöndorff, em “O Mar ao Amanhecer”, de 2011,
já se debruçava sobre a questão humana que a guerra abala e destrói de forma
absurda, sem falar na sua obra-prima, “O Tambor”, de 1979, em que um menino
grita e bate um tambor para enfrentar os absurdos da guerra e da vida. Seu estilo contundente de filmar nos obriga a
encarar realidades estranhas e desagradáveis.
E constrói um forte humanismo como resposta.
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