Antonio
Carlos Egypto
O CLUBE (El
Club). Chile, 2015. Direção: Pablo Larraín. Com Antonia Zegers, Roberto Farias, Alfredo
Castro, Alejandro Goic, Alejandro Sieveking, Marcelo Alonso, Jaime Vadell. 98 min.
A pedofilia, enquanto abuso sexual de crianças e
jovens, praticada por padres e membros da hierarquia da igreja católica, se
constitui numa grande chaga dessa instituição religiosa milenar. Quando denúncias foram aparecendo, em várias
partes do mundo, ao longo das últimas décadas, impunha-se um combate duro e sem
tréguas com vistas à mudança desse quadro e à punição de todos os responsáveis
por esse crime, inadmissível ainda mais partindo de onde partia. No entanto,
não foi o que se viu.
Se o discurso pretendia mostrar indignação e
providências efetivas, a prática foi muito diferente disso. Hoje, passado muito tempo e sob o
direcionamento mais firme e consistente do papa Francisco, a realidade parece
estar mudando. Mas o que a história
recente da igreja registra é assombroso.
É aí que entra Pablo Larraín, o cineasta chileno que
fez “No”, em 2012, sobre o plebiscito histórico que derrotou o ditador
Pinochet. Em “O Clube”, um filme
corajoso, Larraín nos mostra uma casa situada em longínquo sítio litorâneo
chileno, onde vivem alguns padres reclusos, que não têm qualquer atuação junto
à comunidade mais próxima. Cercados por
uma natureza hostil, vivem de forma um tanto misteriosa, sob a gerência
doméstica de uma freira. Há um passado
comprometedor, que deve ser esquecido. Um processo de expiação? Aparentemente, vivem uma rotina de orações e
refeições tediosa. Mas, pelo menos um
deles, se dedica a uma atividade estranha: cuida, treina, prepara um cão de
corrida e faz apostas nele. É algo tão
esdrúxulo para um sacerdote, tão fora de lugar, que remete alegoricamente ao
abusar sexual de menores por celibatários.
Mas terá, também, outra importante função na trama.
O filme explora essa estranheza, esse crime que se
quer negar ou esconder, na atmosfera de uma casa fria, escura, triste. As imagens mostram um permanente céu plúmbeo,
ventos, chuva, escuridão. Esses padres
vivem nas trevas, é o que nos contam as imagens. Um novo morador que aparece instala um novo
perigo e um investigador clerical que o apresenta ao grupo, e depois retorna
para se inteirar das coisas, está mergulhado nessa mesma bruma. O sentido é o da desesperança ou da
descrença.
Tudo isso, e as características de cada um dos
personagens, faz de “O Clube” um filme tenebroso, assustador. Ao mesmo tempo, audacioso, mete o dedo na ferida, sem contemplação.
É um filme denúncia, feito em ritmo lento, contido e na penumbra. Mas do qual não se sai sem sentir um amargor
na boca, pelo menos.
O elenco masculino é forte e homogêneo. Antonia Zegers, a mulher do diretor, faz o
papel de Irmã Mônica, de forma brilhante.
Ela e eles dão vida, sempre em tom baixo, a um roteiro muito bem
construído, que nos leva ao questionamento e à reflexão, inevitavelmente.
“O Clube” recebeu o Urso de Prata, no Festival de
Berlim 2015, muitos prêmios no 25º. Cine Ceará, inclusive o prêmio da Crítica
(Júri Abraccine). É o filme indicado
para representar o Chile na disputa pelo Oscar de filme estrangeiro.
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FESTIVAIS
Já está em andamento o Festival de Cinema do Rio
2015, com grandes atrações de festivais internacionais, Première Brasil,
Homenagem a Orson Welles, e muito, muito mais.
Quem está na cidade maravilhosa pode se fartar.
Em São Paulo, a Mostra Internacional de Cinema já
está a caminho. Mas no Centro Cultural
Banco do Brasil há uma bela mostra de cinema polonês atual, no Cinesesc, uma
mostra de cinema da China Continental, no Centro Cultural São Paulo, filmes do
cineasta japonês Kon Ichikawa, no Belas-Artes, a mostra “O Maior Ator do Brasil
– 100 Anos de Grande Otelo” e, no MIS, o cinema de Truffaut.
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