Antonio
Carlos Egypto
LOVE 3D (Love). França, 2015.
Direção, roteiro e edição: Gaspar Noé.
Com Karl Glusman, Aomi Muyock, Klara Kristin. 134 min.
Um drama de amor todo contado pela ótica do sexual
foi o que pretendeu o cineasta de origem argentina, que vive na França, Gaspar
Noé, em “Love”. Mais ou menos assim: o
sexo é o amor. Com esse conceito, ignora-se o sexo sem amor
e o amor sem sexo. Tudo bem, não deixa
de ser um recorte da realidade amorosa.
O problema é como mostrar isso.
Em “Love”, há uma abissal discrepância entre o que
poderíamos chamar de cenas de amor e de cenas de sexo. Ainda que a prevalência tivesse mesmo que
recair nas cenas de sexo, dado o conceito proposto, a profusão de sexo
explícito ao longo de todo o filme não tem qualquer justificativa plausível,
que não seja o apelo comercial e o desejo de chocar.
O que mais se vê são várias formas de relações
sexuais, em diferentes posições e apelos eróticos, envolvendo dois, três ou
múltiplos parceiros. Genitais em
atividade são fartamente expostos. Tudo
isso em 3D, para acentuar os efeitos.
Assim se caracteriza um produto pornográfico, ou seja, que tem como
principal função excitar os espectadores.
Acontece que Gaspar Noé tem outras pretensões. Quer falar do amor como uma obsessão que leva
ao descontrole, que retorna avassalador mesmo depois de um bom tempo passado,
que envolve ciúme, frustração e angústia.
E assim levar a algo mais. Mas o
filme é longo demais e o desequilíbrio, tão flagrante, que essas intenções se
dissolvem numa narrativa excessivamente sexualizada.
É mesmo de excesso que padece o cinema de Noé. Em “Irreversível”, o superestimado filme dele
de 2002, uma longuíssima cena de estupro se destaca da trama de modo altamente
provocador. Pode ter chacoalhado as
pessoas, mas era demais, e desnecessário.
Aqui é a mesma coisa: o sexo explícito é tanto que o resto se
perde. Se o filme tivesse meia hora a
menos, quem sabe? Para além de um
produto pornô chic, “Love” soa apenas
pretensioso e raso. E que não se leva
muito a sério, mesmo.
O personagem principal masculino é Murphy (Karl
Glusman). Mas por quê? O filme explica. Trata-se da lei de Murphy, aquela que diz que
se algo pode dar errado, com certeza dará mesmo. Electra (Aomi Muyock), o grande amor de
Murphy, tem um complexo em relação ao pai, diz-se a certa altura. O filhinho de Murphy se chama Gaspar, como o
diretor. E há um outro personagem
chamado Noé, o sobrenome do diretor. De
que modo deveríamos interpretar coisas como essas? Melhor deixar para lá.
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