Antonio
Carlos Egypto
FESTA DE DESPEDIDA (Mita Tova). Israel,
2014. Direção: Tal Granit e Shayron
Maymon. Com Ze’ev Revach, Levana
Finkelstein, Aliza Rosen, Ilan Dar. 95
min.
O filme israelense (coprodução alemã) “Festa de
Despedida” é mais um dos produtos que se ocupam da velhice como etapa de
vida. Oportuno isso, na medida em que a
população mundial envelhece, especialmente onde há desenvolvimento econômico e
os progressos da medicina estão disponíveis.
A redução das taxas de natalidade, típicas da modernidade, também
contribui enormemente para isso.
Atualmente, personagens envelhecidos têm sido
frequentes no cinema, dando oportunidade aos atores e atrizes que adentram a
faixa dos 70 ou mesmo dos 80 anos de idade.
Outro ganho interessante para o público: poder rever grandes talentos em
ação, que não deveriam mesmo estar fora das telas só porque agora têm a pele
enrugada e perderam a beleza e o vigor da juventude.
Em “Festa de Despedida”, a maioria dos personagens já
passou da barreira dos 80 anos.
Inevitável, portanto, que o tema da morte, agora já mais próximo,
apareça. Assim como as doenças mais
sérias e incapacitadoras. E,
consequentemente, o genuíno desejo de morrer.
Para alguns, chegou a hora de parar de sofrer e o falecimento seria uma
bênção.
Ocorre que as circunstâncias da morte e o momento em
que ela se dá escapam ao nosso controle.
Ninguém quer morrer de forma dolorosa, prolongada, sofrida. Então, se coloca a questão: as pessoas têm o
direito de optar por uma morte rápida, confortável, sem dor, a partir do
momento em que a vida não faça mais sentido para ela, em função das agruras
terminais que lhe traz?
Sim, o assunto do filme é a eutanásia, um tabu raras
vezes tratado no cinema. Aqui, um grupo
de amigos anciãos de Tel-Aviv tentam se ajudar e acabam produzindo uma máquina de auto-eutanásia, como solidariedade
a um grande amigo que deseja partir.
Pela lei brasileira, ainda que o paciente terminal manifeste seu expresso
desejo de morrer e acione a alavanca voluntariamente, isso é homicídio.
O que pode ser entendido como suicídio assistido
também gera polêmica, sobretudo no terreno religioso. Para os personagens de “Festa de Despedida”,
é pura solidariedade. O filme coloca
humor em muitas das sequências que mostra.
Não é exatamente uma comédia, nem daria para ser com um tema dessa
importância e gravidade, mas a dupla de cineastas soube tratar do assunto com
leveza e até alegria. Como dizia a velha
canção de Billy Blanco (1924-2011), “o que dá pra rir dá pra chorar”. Pois é!
Os questionamentos que o filme levanta são muito
bons, as atitudes dos personagens, muito dignas e realistas, mesmo quando um
pouco atrapalhadas e, portanto, engraçadas. A máquina que soluciona o problema
do amigo comum gera expectativas em outros.
Ao que parece bom, e funciona, outros também querem poder ter
acesso. Justo, mas complicado. O filme não se exime das grandes
questões. Por exemplo, faz sentido
realizar um grande empenho em salvar uma vida, utilizando toda a rapidez e
recursos médicos possíveis, sendo que a pessoa atendida só está esperando que
chegue a sua hora para poder descansar e morrer em paz? Enfim, um filme inteligente e corajoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário