Antonio
Carlos Egypto
MINHA QUERIDA DAMA (My Old Lady). Estados
Unidos/Reino Unido, 2014. Direção e
roteiro: Israel Horowitz. Com Kevin
Kline, Maggie Smith, Kristin Scott-Thomas.
106 min.
“Minha Querida Dama” marca a estreia na direção
cinematográfica do escritor Israel Horowitz.
Ele também fez o roteiro, adaptou para o cinema, a sua própria peça
teatral: My Old Lady.
É uma daquelas peças que vão abrindo, camada a
camada, os interditos, os segredos, as mágoas, as frustrações, as expectativas
e dificuldades de relacionamento que acometem a vida familiar, desde
sempre. Revelações mudam a dimensão das
coisas e dos fatos conhecidos, abrindo novas possibilidades. É um texto intrigante, capaz de envolver o
espectador na narrativa.
Embora fundamentalmente entrem em cena apenas três
personagens num mesmo ambiente, um apartamento muito grande, o filme escapa da
armadilha de virar teatro filmado. O
diretor e dramaturgo Israel Horowitz fez uma adaptação dinâmica, colocando
alguns personagens secundários para contracenar com dois dos protagonistas
pelas ruas e ambientes parisienses, acrescentando dados novos ao cerne da
história e arejando a cena. O resultado
é bastante convincente.
Um dos protagonistas da trama é Mathias, um homem
atormentado, triste, insatisfeito com a vida, umbilicalmente ligado à sua
infância e às carências que identifica nela e nas relações conflituosas com o
pai, a quem ele muito rejeita, e com a mãe, que sucumbiu diante do que não
podia suportar. O ator norte-americano
Kevin Kline encara o desafio desse personagem com inegável competência.
Outra protagonista é Chloé, uma mulher ainda jovem e muito ativa, mas que
não se encontrou muito bem na vida, tanto profissional quanto afetiva, e, na
realidade, gira ao redor de sua mãe, com quem sempre morou, num imenso
apartamento em Paris. A atriz inglesa
Kristin Scott-Thomas é muito eficiente ao revelar, no seu desempenho, o que há
por trás dessa mulher e as mudanças que se efetivarão.
A terceira protagonista é a velha senhora Mathilde,
de 92 anos, vivida pela grande atriz inglesa Maggie Smith, num show de
interpretação. Ela é brilhante nos
detalhes, nas sutilezas do que sente e faz a sua personagem e em como ela lida
com o que desconhece da história. Ela
não sai de casa, pouco consegue se movimentar, mas é a figura mais forte e
marcante da trama. É em torno dela que
tudo acontece.
Com um belo texto, bem trabalhado em termos
cinematográficos por seu autor e atuações desse porte, o filme deslancha. Tem muito espaço para reflexão e bom
ritmo. Envolve, surpreende,
emociona. Vale a pena ver.
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