Antonio
Carlos Egypto
NÃO OLHE PARA TRÁS (Danny Collins). Estados
Unidos, 2014. Direção e roteiro: Dan
Fogelman. Com Al Pacino, Annette Bening, Jennifer Garner,
Bobby Cannavale, Christopher Plummer. 103
min.
“Não Olhe Para Trás” tem uma história sedutora, um
ator de se tirar o chapéu, Al Pacino, e remete a um ídolo marcante da história
da música popular e importante referência comportamental de sua época, John
Lennon. Com elementos como esses, é de
se esperar que o filme alcance sucesso junto ao público.
A história é apresentada no filme como um pouco baseada em fatos reais. Não sabemos, ao certo, qual é esse
pouco. Provavelmente, o mote da
trama. E qual é ele? Steve Tilson, um cantor folk inglês de
sucesso teria recebido uma carta manuscrita de John Lennon, que só chegou às suas mãos quase quatro décadas depois. Datada dos anos 1970, só teria sido entregue
a ele em 2010.
No filme “Não Olhe Para Trás”, o cantor de sucesso é
convertido no roqueiro Danny Collins (Al Pacino), que há trinta anos repete as
mesmas músicas de apelo comercial em grandes turnês, já que não conseguiu
produzir mais nada de novo, desde então.
Sua carreira sempre lhe deu muito dinheiro, mas agora se tornou de uma
mesmice insuportável, sendo seu público composto por pessoas maduras e idosos
saudosistas, ainda capazes de se divertir com as amenidades e infantilidades
das letras de sucesso de Danny.
Aí entra a carta de Lennon, que transforma não só a
carreira desse cantor como sua vida pessoal, incluindo as relações com um filho
que abandonou solenemente em nome da trajetória musical. Esse filho, já casado, lhe nutre ódio, sua
nora o estranha, mas sua neta o recebe alegremente. Reconstruir essa vida familiar renegada será
um enorme desafio.
Mudar os rumos da carreira após tantos anos
construindo uma imagem popularesca também será tarefa complicadíssima. Será tarde demais para corresponder a
palavras de incentivo e cobrança ética de John Lennon? E fica a inevitável questão: como teria sido
a vida de Danny Collins se tivesse recebido aquela carta na época em que foi
escrita?
Há espaço para uma tentativa de Danny de conquistar
uma mulher que lhe interessou quando mudou seu rumo de vida. É o papel de Annette Bening, outro destaque
do elenco. E o grande e veterano
Christopher Plummer aparece muito bem no papel de agente e antigo amigo do
cantor. Mas o que o filme tem de melhor
é, mesmo, o desempenho de Al Pacino. Ele
relativiza as cenas melodramáticas, dá credibilidade à virada de vida do
personagem, transmite humor e simpatia.
A gente até acredita mesmo que ele cante e encante plateias com sua
música. Sem ele, o filme não iria muito
longe, ou poderia se tornar inverossímil, já que a história é atraente, mas
esdrúxula. E seus desdobramentos, mera
especulação.
A música marcante de Lennon também aparece no filme,
em doses modestas. Mas o suficiente para
agradar o público que for ver o filme também por causa do apelo que o grande
Beatle até hoje continua exercendo.
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