Antonio Carlos Egypto
O GRANDE MESTRE (Yi
Dai Zong Shi). China, 2013.
Direção: Wong Kar Wai. Com
Tony Leung, Zhang Ziyi, Chang Chen. 120
min.
Wong Kar Wai, cineasta chinês nascido em Xangai, mas
vivendo e produzindo em Hong Kong, se destacou principalmente por filmes que
abordam com sutileza e complexidade o terreno do relacionamento amoroso. Belíssimos enquadramentos, imagens
requintadas, uso sofisticado da luz, da cor e de figurinos, costumam compor
criações como “Amores Expressos”, de 1994, “Felizes Juntos”, de 1997, “Amor à
Flor da Pele”, de 2000, ou “2046”, de 2004.
As relações humanas no romance adulto e temas como desejo e sexo,
fidelidade, traição, ciúmes, fazem parte do seu cardápio fílmico habitual.
Ele também já havia feito pelo menos uma incursão no
terreno dos épicos de artes marciais, em “Cinzas do Passado”, de 2008. Espadachins, assassinos de aluguel e luta
pelo poder, se associaram, assim, à relação amorosa, gerando um novo tipo de
espetáculo, do gênero cultivado também por outros diretores chineses, como o
ótimo Zhang Yimou, o mestre das cores.
O novo filme de Wong Kar Wai, o décimo longa de sua
carreira, “O Grande Mestre”, vai na linha do super espetáculo, um novo drama
épico de artes marciais, passado na tumultuada China dos anos 1930. Inspira-se na vida do lendário Yip Man (Tony
Leung), considerado mentor de Bruce Lee.
E mostra o kung-fu como uma
peça de importância fundamental na história da China, enquanto arte e
instrumento de poder. O que dá margem a
lutas muito bem encenadas, de grande beleza plástica, em meio à chuva, à neve e
à arquitetura chinesa tradicional. É
tudo muito bonito, espetacular.
Nem por isso, o diretor abandonou suas tramas
complexas. Os elementos da história
envolvem guerras, em especial, o domínio japonês sobre a China, as questões
familiares, o desejo, a memória e, como não poderia deixar de ser, o amor. Wong Kar Wai não se perde na superprodução. Procura dar substância à narrativa,
investindo numa dimensão histórica e na de relações pessoais intensamente
vividas. Não há lutas em excesso, as
coisas estão devidamente equilibradas.
Os espectadores acostumados à sua abordagem mais
intimista podem estranhar o tema principal de “O Grande Mestre” e sua concepção
de espetáculo. Há quem não se interesse
por kung-fu ou por Bruce Lee, por
exemplo. Ou não tenha apreço especial
por artes marciais. Quem gosta de
cinema, no entanto, não vai se decepcionar.
É um espetáculo que enche os olhos, se destaca pelo som, pela direção de
arte, pelas interpretações e tem muitos elementos para prender a atenção, além
do kung-fu.
Os mesmos enquadramentos de beleza plástica, as
imagens requintadas, o uso sofisticado da luz, das cores e dos figurinos, além
da complexidade narrativa, estão lá, como sempre. É mais um grande filme de Wong Kar Wai. Num gênero capaz de amealhar, quem sabe, um
público maior para as salas de cinema do que aquele que tem acompanhado e
curtido a obra do diretor até aqui. “O
Grande Mestre” estreou na 37ª. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e agora
chega ao circuito comercial dos cinemas.
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