Tatiana Babadobulos
Belém, Zona de Conflito (Bethlehem). Israel, Alemanha e Bélgica, 2013. Direção e roteiro: yuval Adler. Roteiro: Ali Waked. Com: Shadi Mar'i, Tsahi Halevy, Tarek Copti. 99 minutos
A briga que não tem fim no mundo,
entre judeus e palestinos, pode ser entendida de maneira bastante estreita e
pessoal no longa-metragem israelense “Belém,
Zona de Conflito” (“Bethlehem”). A fita tem estreia apontada para o dia 3 de
abril, mas já está em pré-estreia paga em algumas salas paulistanas.
A história é contada a partir de
Sanfur (Shadi Mar’i), um adolescente palestino que tem uma relação quase
paternal com Razi (Tsahi Halevy). Sua família é próxima, embora o pai esteja
sempre cobrando que ele faça mais. O problema do envolvimento é que Razi é
agente do serviço secreto israelense. Como tem experiência, ele usa sua influência
sobre o garoto para obter informações que precisa, uma vez que Sanfur é o irmão
mais novo de Ibrahim (Tarek Copti), militante palestino muito procurado pelos
israelenses.
Quando completa 17 anos, Sanfur
se divide entre as exigências de Razi e a lealdade a seu irmão. Neste meio
tempo, o rapaz faz uma aposta com os amigos da sua idade de que pode ser
baleado usando um colete, pois não será atingido.
Este é o primeiro longa que Yuval
Adler, um judeu israelense, dirige e escreve. Para o roteiro, aliás, teve a
colaboração de Ali Waked, jornalista árabe que passou anos na Faixa de Gaza e
em Ramallah. Os dois levaram muito tempo para escrever a história uma vez que,
segundo o material de informação para a imprensa, não foi fácil fazer
militantes palestinos das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa e do Hamas se
abrirem, nem entender sobre o Shabak, o serviço secreto.
Com este ponto de vista, “Belém, Zona de Conflito” consegue
mostrar características de ambos os povos que não estamos acostumados a
conhecer, a não ser em notícias trágicas de jornais, quando se tem a guerra
instalada. O cenário é basicamente Belém, cidade localizada na Palestina, mas
que vive cercada por um muro de segurança israelense, país que controla as
entradas e as saídas na cidade.
O thriller nasceu justamente da
conversa do diretor com um agente do serviço secreto israelense que disse que “a
chave para recrutar e cultivar informantes não é a violência ou a intimidação
ou o dinheiro; a chave é desenvolver uma relação íntima com o informante, num
nível bem humano”. E é esta a proposta de “Belém,
Zona de Conflito”. Quando os dois “amigos” desenvolvem a cumplicidade
durante anos, não se sabe quem está enganando quem. À medida dos
acontecimentos, o espectador vai acompanhando o drama e torcendo para que algum
dos dois não traia o outro.
O cenário escolhido contribui para o desenvolvimento da trama, assim como os atores conseguem transmitir a paixão pela qual cada um luta e defende, como quando um dos personagens morre e os líderes de cada grupo escolhem, em detrimento da família, como vai ser o velório.
Com a câmera, Adler se aventura no meio da discussão, dos conflitos e insere o espectador neste ambiente, que pode vivenciar cada passo dado por cada um dos lados.
“Belém, Zona de Conflito” não é tendencioso, quando se trata do conflito árabe-israelense; a ideia aqui é mostrar os dois lados e o que cada um acredita e defende. Cada um defende a sua verdade. E quem vai mudar isso?
O longa-metragem chega aos cinemas brasileiros após receber 12 indicações para o Israel Film Academy, ser selecionado para os festivais de Toronto, Veneza e do Rio de Janeiro.
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