Antonio Carlos Egypto
O LOBO DE WALL STREET (The Wolf of Wall Street). Estados Unidos, 2013. Direção: Martin Scorsese. Com Leonard DiCaprio,
Jonah Hill, Margot Robbie, Matthew McConaughey. 179 min.
O
mundo financeiro, com o sobe e desce das bolsas de valores e os investimentos
de alto risco, onde se pode ganhar e perder muito dinheiro, é um ambiente que
atrai jogadores, vendedores histéricos, manipuladores, vigaristas. E também profissionais sérios e
equilibrados. Provavelmente, em menor
escala, não sei.
A
julgar pelo novo filme de Martin Scorsese, “O Lobo de Wall Street”, esse mundo
já está muito corrompido e o capitalismo perdeu qualquer compostura, qualquer
limite. Só mesmo mergulhando no mundo
das drogas, cada vez mais possantes, alimentado por festas, prostitutas,
bacanais, tudo, tudo em excesso.
Na
verdade, está contando a história de Jordan Belfort (Leonardo diCaprio), a
partir de um livro de memórias do próprio.
Portanto, estamos falando de uma figura arrojada, enlouquecida,
despudorada, que, explorando a boa-fé das pessoas ou o seu desejo de levar
vantagem em tudo, se tornou milionário.
Comandou sua própria corretora, empregou e tornou ricos muitos amigos,
colaboradores e empregados. Um sucesso a
qualquer custo, a qualquer preço, sem considerações de ordem ética.
O
modo como Scorsese conduz a narrativa, no entanto, nos remete à noção de que as
coisas funcionam assim mesmo por lá.
Senão, não seriam tão fáceis as conquistas de Jordan e ele não
construiria um séquito de seguidores de tal ordem e entusiasmo. Ele era persuasivo, o tipo que motiva,
transborda de tão excessivo que é. Mas
não lhe faltaram admiradores ou seguidores.
Às pencas.
Scorsese
retrata com maestria essa trajetória, sem pudor, e constrói cenas e sequências
visualmente atraentes e entusiasmantes.
Tal como seu personagem, o diretor não se limitou, no caso, às
conveniências de mercado. Encheu o filme
de dinheiro (físico, mesmo), drogas de todos os tipos, formatos e cores, com
destaque para as carreiras de cocaína, excessos sexuais, nudez, exibicionismo,
orgias em pleno escritório. Loucura por
toda parte. O filme se agita para
revelar em que terreno estamos pisando e que mundo é esse. Consegue o seu intento muito bem.
Para
isso, conta com uma exuberante e impressionante atuação de Leonardo DiCaprio,
cuja entrega ao papel é notável. Está
perfeito, encarnando o desmedido personagem Jordan. Ele leva o filme, sustenta a proposta ousada
do diretor, sem medo de se expor. Um
ator maduro.
Destaque
também para Jonah Hill, no papel de Donnie, sócio e melhor amigo do
protagonista. Da atuação dele resultam
alguns dos melhores momentos satíricos do filme. O conjunto do elenco entrou todo no espírito
do excesso que marca a narrativa. Fica
tudo muito intenso, engraçado e crítico.
É um filme para curtir, mas também para refletir. Martin Scorsese faz grandes produções, mas
não está para brincadeira. Tem muito a
dizer. No caso de “O Lobo de Wall
Street”, provocar. Revelou-se um grande
provocador, injetando vitalidade no cinema de Hollywood, que, apesar de todas
as brigas, explosões, guerras, destruições, super-heróis, anda muito morno, sem
ideias.
Claro
que toda essa maluquice, retratada por Jordan Belfort em suas memórias, contadas
em off como complemento das cenas,
não teria como ficar nisso. Chega uma
hora em que o próprio excesso pede sua contenção. Aí aparecem a lei e a punição. Só assim pudemos conhecer o relato do
protagonista, senão, ele já teria sucumbido pessoalmente e, provavelmente, não
teria alguém para contar essa história.
Pelo menos, não com a riqueza de detalhes com que ela é contada.
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