Antonio Carlos Egypto
CONFISSÕES DE ADOLESCENTE. Brasil, 2013.
Direção: Daniel Filho e Cris D’Amato.
Com Sophia Abrahão, Malu Rodrigues, Bella Camero, Clara Tiezzi, Cássio
Gabus Mendes. 96 min.
Já houve tempo em que as adolescentes faziam seus
diários, falando dos seus sentimentos e intimidades a si próprias e,
eventualmente, a quem tivesse acesso ao seu caderno secreto. Dos diários de Maria Mariana resultaram uma peça
de teatro, reencenada em várias oportunidades, um livro e uma série de TV de
sucesso, veiculada pela TV Cultura em várias temporadas e reexibida em outras
redes de TV: “Confissões de Adolescente”.
Há mais de vinte anos está em evidência a experiência de uma jovem, suas
três irmãs e seu pai, contando o universo adolescente com sinceridade e
amplitude.
Agora é a vez de o cinema abordar essa história toda,
num longa, com um óbvio desafio. Os
adolescentes mudaram muito, não tanto no que representa seu universo
constitutivo, mas principalmente nas formas de expressão. Os diários deram lugar às redes sociais, onde
tudo que se posta, textos e fotos, se torna público e passível de interação,
crítica e manipulação. De modo que essas
confissões envolvem hoje a divulgação
consciente de uma imagem que se quer projetar.
Há sinceridade nisso?
Adolescentes, muitas vezes avaliando mal as
consequências e buscando vender boa imagem na rede, acabam sendo, por
ingenuidade, vítimas de violências nada virtuais. Em todo caso, essa é a forma que têm hoje os
diários. E foi o modo como o filme se
estruturou.
Tudo que envolve o mundo adolescente de classe média
está presente por meio das personagens femininas, que são quatro irmãs que
variam entre 13 e 19 anos. Isso permite
cobrir desde o primeiro beijo de língua às questões de estudo e emprego da
época da faculdade. O painel que é
mostrado em “Confissões de Adolescente” é bem amplo e toca em todos os pontos
sensíveis dessa faixa de idade. Estão
lá, por exemplo, as frustrações da primeira transa, a gravidez inesperada, a
questão do aborto, o relacionamento com os meninos, o convívio familiar,
inclusive dificuldades para manter o padrão de vida. Nada é aprofundado, mas tudo é mostrado. Os adolescentes, os garotos inclusive, vão se
identificar com as situações encenadas na ficção, vão se divertir e poderão
parar para pensar em algumas coisas. O
filme consegue ser atual, sem dar resposta ou moralizar nada. O que, sem dúvida, é um mérito de um produto
dirigido aos adolescentes. É uma
película dinâmica e inteligente.
O elenco jovem se sai muito bem, na tarefa de
representar a garotada do século XXI com base em material original do século
XX, em que pese o número excessivo de personagens. Maria Mariana, a autora do texto, faz
participação especial, assim como Deborah Secco, Daniele Valente e Georgina
Góes, que viveram na adolescência a série de TV. Cássio Gabus Mendes está ótimo como o pai das
meninas. A direção é do mesmo Daniel
Filho que respondeu pela série e foi grande entusiasta da ideia, desde a
primeira encenação teatral. Cris D’Amato
divide com ele a direção do longa.
O resultado é um filme atraente para os jovens,
especialmente os de classe média ou alta.
O universo da adolescência em estratos menos favorecidos, que tem
questões mais graves e vitais, não está lá.
Nada contra, contanto que não tomemos o universo classe média como
representativo da adolescência como um todo.
É sempre bom lembrar que não há uma
adolescência, mas várias. Que terão muitas coisas em comum, mas
necessidades e prioridades diferentes.
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