Antonio Carlos Egypto
A FILHA DE NINGUÉM (Nugu-ui Ttal-do Anin Haewon).
Coreia do Sul, 2013. Direção e
roteiro: Hong Sang-soo. Com Jeong Eun-chae, Lee Seon Gyun,
Kim Ja-ok, Yoo Joon-sang. 90 min.
“A Filha de Ninguém” é o novo trabalho do diretor
coreano Hong Sang-soo, de quem já vimos nos cinemas o excelente “Hahaha” (veja crítica no cinema com recheio, dezembro
de 2012).
Haewon (Jeong Eun-chae), jovem universitária, está ás
voltas com questões de relacionamento que mexem muito com ela. Sua mãe (Kin Ja-ok) parece ser uma figura
distante da família, mas cuida muito bem de tocar a própria vida. Está indo embora, vai morar no Canadá. Haewon vai se encontrar com a mãe e se
despedir. A partida será amanhã. Vemos, então, o quanto essa mãe parece muito
afetiva e bondosa. Ambas estão felizes,
aparentemente. A mãe diz que não deixará
de pensar na filha nem um dia e deseja o seu bem-estar. Mas isso é tudo, vai
partir para tocar seu trabalho e quem sabe, um dia, se reencontrarão. A jovem demonstra, com suas expressões, que
sente o abandono, fica insegura, no entanto, tudo se dá de forma calma e até
sorridente. Um turbilhão por dentro, mas
tudo muito civilizado por fora.
A outra questão, que é central no filme, diz respeito
ao relacionamento amoroso de Haewon com Seongjun (Lee Seon Gyun), seu
professor, casado há sete anos. A
relação tem de se manter secreta, isso dificulta tudo e deixa a jovem
insatisfeita. Tudo vai se complicar
muito mais, quando a turma de alunos do professor, e colegas dela, descobre o
caso. E quando ela se afasta, mas ele
vai atrás dela, numa fortaleza nas montanhas de Seul, num belo, distante e
pouco frequentado local turístico, onde ela compartilha sentimentos com um
casal.
As cenas se sucedem em baixa intensidade e num tom,
ora, calmo, ora, controlado. Revelando,
de forma inequívoca, que nossas emoções são intensas, fortes, mas, nosso
processo civilizatório as tolhe. Cabe ao
indivíduo o penoso papel de tentar controlar as emoções que brotam do seu ser.
Com efeito, os personagens se seguram, mas o controle
lhes escapa. Aparecem uma expressão de
desagrado ou rejeição, uma palavra rude, uma saída intempestiva, uma fofoca,
uma agressão verbal. No entanto, não
mergulhamos no melodrama, como a trama poderia indicar. O que importa é como
lidamos com as emoções, as expectativas frustradas, as esperanças que temos de
abandonar, as perdas e separações, a solidão.
E como fazemos isso dentro dos limites impostos pelo processo
civilizatório.
O cinema de Hong Sang-soo é sutil, se passa num clima
suave, apesar do drama e exige do espectador atenção aos detalhes. É um cinema rico em sensibilidade e focado no
relacionamento humano, além de visualmente muito bonito e delicado.
Dá gosto acompanhar a narrativa de um diretor em
planos sequência que valorizam a simplicidade e a espontaneidade, sem fazer uso
de cenas de sexo, violência, histeria, pessimismo atávico ou grandes efeitos
especiais. O filme nos conquista a cada
instante, devagar e sempre. Provando, em
cada sequência, que realmente no cinema, assim como em muitas outras coisas da
vida, menos é mais.
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