sábado, 1 de setembro de 2012

CINEMA ESPANHOL DOS ANOS 1950

                     
Antonio Carlos Egypto

Uma mostra em São Paulo, de 03 a 09 de setembro de 2012, no MIS – Museu da Imagem e do Som, chamada “Realismo no Cinema Espanhol”, vai exibir filmes dos anos 1950, quase todos inéditos no circuito comercial cinematográfico.
O cinema espanhol do período do pós-guerra estava marcado pela Guerra Civil Espanhola que dividiu irremediavelmente o país e produziu o atraso e o obscurantismo do regime de Franco, pelo isolacionismo do país após a Segunda Guerra e a tentativa de se reerguer, aproximando-se pragmaticamente dos Estados Unidos, pela via do combate ao comunismo soviético vitorioso.  Se inspirava no modelo neorrealista do cinema italiano, de caráter social, mas tinha de conviver com a censura do regime franquista.  Produziu um cinema criativo que pouco conhecemos.  Vejamos alguns destaques dessa mostra.


BEM-VINDO, MR. MARSHALL (Bienvenido, Mr. Marshall), filme de 1953.  Direção: Luis García Berlanga.  Com Lolita Sevilla, Manolo Morán, José Ibert e voz de Fernando Rey.  95 min.
No pequeno povoado de Vilar del Río, onde nunca acontece nada, a esperança vem da visita dos norte-americanos do Plano Marshall, de ajuda à Europa, que se reconstruía após a Segunda Guerra Mundial.
A expectativa pela passagem dos americanos levanta a comunidade, produz desejos, gera medos, rivalidades e dívidas, mas aumenta a autoestima do povo.  Enfim, transforma as pessoas.
Um roteiro muito bem construído produz uma comédia inteligente e original.  Quem viu “O Banheiro do Papa”, de 2007, vai se surpreender com as semelhanças.  Terá sido a inspiração desse ótimo filme uruguaio recente, de coprodução brasileira ?


MORTE DE UM CICLISTA (Muerte de un ciclista), filme de 1955.  Direção de Juan Antonio Bardem.  Com Lúcia Bosé e Alberto Closas.  88 min.
Um casal de amantes atropela e mata um ciclista na estrada, sem prestar socorro, para evitar que seu romance extraconjugal fique evidenciado.  Mas as consequências dessa decisão marcarão para sempre a vida de ambos, sobretudo a vida interior, os sentimentos, a culpa, que se projetará em tudo o que acontece com eles.  Um melodrama denso e consistente, que escapa da mera visão moralista e gera reflexão, produzindo imagens fortes que destacam o mundo psíquico dos personagens.


Além desses e outros, inéditos, há ainda a chance de ver no cinema o brilhante VIRIDIANA, de Luís Buñuel, produção espanhola e mexicana, já de 1961, que existe em DVD, mas há muito não se vê na telona.  A corrosiva visão buñueliana da tragédia que pode resultar de uma caridade cristã politicamente ingênua deu origem a um filme notável, absolutamente inesquecível.  Palma de Ouro em Cannes e, obviamente, proibido de ser exibido na Espanha durante todo o regime franquista.

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