Antonio Carlos Egypto
PINA (Pina). Alemanha, 2011. Direção: Wim Wenders. Documentário. Elenco: Pina Bausch e os dançarinos do Tanztheater Wuppertal. 106 min.
O brilhante trabalho da coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009) e da companhia de dança-teatro, que ela dirigiu desde 1973 até sua morte, é o objeto do documentário “Pina”, realizado em 3D pelo consagrado diretor Wim Wenders.
A filmagem de Wenders teve início em 2008 e foi fruto de um projeto longamente acalentado que acabou sendo transformado pela inesperada morte de Pina Bausch. O que seria um registro artisticamente importante de um trabalho inovador, e de grande força ,acabou sendo também o testamento artístico da coreógrafa e o resgate de sua imagem ,e de seu trabalho, para o futuro.
A companhia que ela dirigiu: o Tanztheater de Wuppertal, a cidade onde ela nasceu e que abriga o grupo, permanece ativa, o que permitiu que o diretor continuasse filmando e pudesse ouvir o que os dançarinos teriam a dizer sobre Pina. Para este fim, Wenders optou por gravar as falas deles e colocá-las sobre os seus rostos estáticos, ou melhor, se comunicando por olhares e expressões, enquanto se ouve o que eles disseram em off. O recurso é ótimo, porque as falas são todas muito curtas. E isso também tem tudo a ver com Pina Bausch, que falava muito pouco.
Os dançarinos procuram se lembrar das poucas frases que ela disse a cada um, sempre marcantes. Mas é geral a sensação de que ela não costumava orientar, esperava de cada um um gesto, uma ação, que ela pudesse ampliar e transformar em cena para as suas coreografias. Um trabalho fortemente expressivo, sem palavras, como é a sua dança-teatro contemporânea.
A tecnologia 3D, empregada por Wim Wenders no documentário, tem um incrível efeito, que a torna indispensável: a visão de profundidade do palco e dos espaços cênicos externos onde se dá a dança-teatro. A dimensão do espaço na dança nunca foi tão bem explorada como está aqui, em função dessa tecnologia. Durante duas horas, podemos apreciar as performances do grupo, as coreografias de Pina Bausch em toda sua dimensão espacial, o que ressalta a beleza do trabalho artístico desenvolvido.
No filme “Fale com Ela”, de 2001, Pedro Almodóvar também compôs uma cena linda e que emociona os personagens da história, quando assistem a uma performance de Pina Bausch e seu grupo, no teatro. Já foi uma bela homenagem e difundiu o trabalho para um público maior. Com “Pina”, de Wim Wenders, temos agora um registro mais amplo e completo do trabalho dela, em cinema. O que é fundamental, já que, nos palcos, verdadeiras revoluções estéticas podem se perder, se não forem registradas com qualidade por câmeras. Sempre queremos eternizar os momentos maravilhosos, especiais, como se isso fosse possível. Não é. Mas ter algo registrado por meio de fotos e filmagens contribui de forma decisiva para a memória e para a história
O registro que Wim Wenders fez do trabalho de Pina Bausch tem, por isso também, um valor inestimável. Independentemente disso, porém, é ótimo cinema, perfeitamente reconhecível até para aqueles que, eventualmente, não apreciem a dança contemporânea.
Só para lembrar: Wim Wenders, nascido em 1945, é um dos grandes diretores do novo cinema alemão e tem, entre os seus trunfos cinematográficos, filmes como “Alice nas Cidades”, de 1973, “O Amigo Americano”, de 1977, “Estado das Coisas”, de 1982, “Asas do Desejo”, de 1987, “Buena Vista Social Club”, de 1999, “Palermo Shooting”, de 2008, entre tantos outros trabalhos relevantes para o cinema.
“Pina” foi um dos cinco indicados ao Oscar 2012, na categoria Documentário. Não levou. Afinal, no Oscar tudo é possível e nada se justifica.
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