domingo, 8 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra



Tatiana Babadobulos

Cavalo de Guerra (War Horse). Estados Unidos, 2011. Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Lee Hall e Richard Curtis. Com: Jeremy Irvine, Emily Watson e David Thewlis. 146 minutos.


Steven Spielberg, cineasta responsável por filmes como “ET – O Extraterrestre”, “Tubarão”, “Indiana Jones”, entre muitos outros, deixou um pouco de lado as produções executivas de blockbusters (ele é produtor, por exemplo, de “Transformers”, “Shrek”, entre outros) e resolveu falar de amor. Amor, mas em nada remete às comédias românticas produzidas em grande escala por Hollywood.

Isso porque em “Cavalo de Guerra” (“War Horse”), longa-metragem que estreia nesta sexta-feira, 6, ele fala do amor entre um camponês (Jeremy Irvine, em sua estreia no cinema) e um cavalo que viu nascer na fazenda vizinha.

Para sua surpresa, seu pai (Peter Mullan) arrematou o cavalo durante o leilão por uma fortuna, mesmo que a contragosto da mãe (Emily Watson) e de várias outras pessoas da vila onde vivem. O pai, aliás, não dá conta de pagar o próprio aluguel, pois só vive bebendo, e pouco se sabe sobre o seu passado, ainda que a mãe tenha a desculpa de que vivera momentos tristes tempos atrás.

Com o intuito de provar que o cavalo pode dar conta de arar a terra, o garoto Albert o batiza de Joey e os dois passam a ser companheiros inseparáveis. Então, promete aos pais que domará o animal. É quando a chuva traz o milagre e a bonança. Estava indo tudo bem, até que Joey vai parar na guerra.

A partir daí, o diretor Spielberg, que também é produtor do filme, começa a mexer na seara que conhece muito bem, já que é dele, por exemplo, o filme “O Resgate do Soldado Ryan”, que se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Mas também é possível identificar na produção um quê de outro cineasta, John Ford, como o longa “Nos Tempos das Diligências”.


Só lá pelas tantas o espectador fica sabendo que esta história se passa durante a Primeira Grande Guerra, na Inglaterra, já que, no início, só há alguns indícios (sotaque, direção do carro à direita). Mas aí é anunciada a guerra contra a Alemanha e o letreiro avisa que é em 1914.

Mas “Cavalo de Guerra”, adaptação do romance de mesmo nome de Michael Morpurgo, que também deu origem a uma peça no teatro, é uma história épica e possui direção de arte que condiz com a época situada, bem como o figurino, que fora costurado à mão para dar mais autenticidade.

Spielberg conta a história, inicialmente escrita sob o ponto de vista do cavalo, de maneira ampla, ou seja, não apenas sobre a jornada do animal, mas também do garoto, que quer reencontrá-lo. E, pela primeira vez, o diretor faz histórias paralelas se entrelaçarem. E o faz muito bem, já que fornece conteúdo suficiente para que o espectador torça pelo melhor final dos dois lados.

Durante a trajetória, Joey vai passando de mão em mão, em sua maioria mãos jovens, que têm mais paciência…

Nos filmes “Indiana Jones”, Spielberg focou a história no homem e não em seu fiel corcel. “Mas no desenrolar da produção de ‘Cavalo de Guerra’ me surpreendi com o quanto os cavalos são capazes de demonstrar enorme emoção”, disse o diretor no material divulgado para a imprensa.

Para o longa, ainda de acordo com o material, foram utilizados 14 cavalos para interpretar Joey em sua progressão de recém-nascido a adulto. Embora quase todas as cenas sejam filmadas com cavalos de verdade, Spielberg mandou fazer um cavalo animatronic para partes da sequência na qual Joey está preso no arame farpado, seguida pela cena na qual protagoniza uma trégua para a paz entre as nações envolvidas no episódio.

A trama, aliás, é o tempo inteiro pontuada pela música de John Williams (autor de outras trilhas ao lado de Spielberg, incluindo “As Aventuras de Tintim”, que estreia ainda este mês no Brasil), e praticamente não cessa durante toda a projeção.

“Cavalo de Guerra” fala de amizade, lealdade, coragem e, sobretudo, esperança. Esperança de o cavalo deixar ser montado, de arar a terra, de ir para a guerra e de encontrar seu companheiro de novo na volta. Esperança por um mundo de paz, sem a estupidez da guerra, e, por que não?, esperança de concorrer ao Oscar.

Com trama emocionante, Spielberg ainda consegue manipular o espectador e dizer-lhe a hora certa para que rolem as lágrimas que já estavam ali prontas. Sorte do espectador que ainda tem tempo, já que as luzes só se acendem após os créditos finais.

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